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Depois de um sábado à tarde de ténis que me deixou de rastos recebi um "convite irrecusável" para ajudar um casal de amigos a "encher uma placa" no seu novo alpendre.

 

Domingo à  tarde lá me apresentei, como vimos  já debilitado, para tão árdua campanha. Para quem não sabe "encher uma placa" consiste na tarefa de encher uma espécie de caixa baixa armada de vigas, tijoleira e ferro, com massa (mistura de cimento água , areia e brita) que irá ser o tecto ( neste caso) ou a divisória entre andares de uma casa ou de apartamentos. Hoje em dia estas operações são executadas por camiões-betoneiras que enchem placas a qualquer nível do solo ou de qualquer superfície. Neste caso, dado tratar-se de uma pequena obra (dizem eles), o serviço não é disponibilizado.

 

Compareceram no local de trabalho 6 braços de trabalho: 3 profissionais e 3 amadores. Os profissionais ficaram incumbidos das tarefas técnico- específicas. Os amadores do trabalho não especializado, ou seja carregar, carregar, carregar, carregar. Sendo a obra simples ( não me apercebi de nada), a cobertura de um alpendre com 30 m2 e com 3 metros de altura , aproximadamente, o trabalho foi assim distribuído: um profissional à betoneira eléctrica a controlar as misturas e a consistência da massa, dois profissionais no alto da estrutura a distribuir a massa, vigiar a estrutura de ferro, avaliar a estrutura de suporte da placa, controlar descargas de água e verificar todo o evoluir da cobertura. A outra mão-de-obra existente ( moi même e outros dois) ficou com a relevantíssima incumbência de "alimentar" betoneira e placa. Trazer brita, areia e cimento para a betoneira e fazer chegar os baldes de massa a três metros de altura. Um ia, com um carro-de-mão , trazendo os materiais "não cozinhados", outro enchia os baldes com la massa, transportava-os até um andaime e passava-os ao que falta para que este, num equilíbrio periclitante em cima do andaime, o passasse, finalmente ( ufff ) aos técnicos superiores (duplamente superiores). Os amadores revezavam-se constantemente nas suas tarefas talvez devido à riqueza experimental das mesmas.

 

A betoneira não se calou, o cimento em pó e a massa andavam no ar, no chão e nos corpos encharcado e tudo isto durou desde a hora do almoço até ao cair do Sol. E ainda dizem que o trabalho intelectual é que verdadeiramente cansa. Eu que sou trabalhador intelectual (?) aconselho a quem o defende que experimente encher placas. É uma verdadeira loucura! Não perca!

 

Chegado a casa, mais moribundo do que um saco de cimento fora de prazo, depois de um longo banho de espuma, de esfregado com intensidade inusitada ( o cimento sai com grande dificuldade da pele, do cabelo e de outras partes do corpo...) e um jantar sem grande alegria, finalmente o confortável sofá por debaixo do corpo.

 

 Para concluir na RTP, e ajudando a uma recuperação rápida, "Os Gatos" e uma belíssima série (em estreia) que não fixei o nome, com O Miguel Guilherme e a Rita Blanco . Isto sim que é verdadeiro serviço público!

 

Hoje, dia de trabalho impiedoso e irrecusável, sinto-me tão aconchegado à minha pele que sorrio sem querer. A amizade vale a pena mesmo quando o trabalho não é pequeno. A experiência brutal do trabalho nas obras mostra-nos um mundo que só na prática ( mesmo pontual, extraordinária e extravagante) de interioriza e entende.

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publicado às 11:17



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