Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
A seara tinha-se feito linda, saudável e alta. O homem, no meio dela, confundia-se com a paisagem. Não parecia um homem, era um elemento da seara. Ninguém distinguia uma espiga da outra, uma cabeça de uma espiga dourada. Tudo era tudo, nada também. O homem sentia-se despersonalizado e triste. A beleza da seara só era perceptível vista de fora. Ondulando ao vento, a vegetação áspera provocava-lhe cócegas irritantes. A auto-estima individual diluía-se na murmurante multidão anódina.
O homem não aguentou mais: urrando ao vento esmagou a seara envolvente e emergiu uno e imperial. Na paisagem vislumbrava-se claramente uma figura humana erecta e besta. Um narciso reflectido na superfície polida da solidão.
P.S. Se a paciência não tivesse limites tempos de ceifa viriam breves e o nosso homem tornar-se-ia ceifeiro e colheria as espigas prenhes de futuro.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.