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Rio da Morte

por vítor, em 15.03.23

 



O pus que escorre desta ferida aberta inicia o rio. Onde começa a dor de me tornar velho. Sim, na ferida aberta, a nascente deste rio sem esperança, a viagem cansada por terras estranhas, traga a planície lenta em meandros de sangue azul cobalto desenhando veias e artérias rompendo a pele. O mar imenso da morte espera a corrente que o procura. Tudo desliza para o mar sem fim. Tudo se despenha na renúncia de continuar. É desespero e sapiência a torrente de lama que arrasta os últimos a sorrir. A cobarde morte esconde o trabalho intenso dos vermes devorando a carne devoluta. A podridão da vida.

Oceano emético de pus iridiscente, lavoura sanguinolenta castrando os antigos temores a deus. Nebulosa opaca ardendo no fim dos dias, atraindo os ossos dos defuntos ao abismo das árvores petrificadas, onde o vento range nas folhas tatuadas pelo verbo insano, verborreia inútil no clamor do silêncio. A morte sempre vence as desvalidas carcaças nauseabundas, envergando os paramentos dos profetas fraudulentos como são todos os videntes encartados.

Quando o rio se perde na lagoa que engole a vida, os patrões da noite sem memória atingem orgasmos monumentais roçando o renascimento das almas eméritas. São portas sólidas as que te oferecem para arrombar.

16/17.2.2023

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publicado às 15:41

...

por vítor, em 15.03.23

Se a superação do que julgavas impossível te levar ao trono dos heróis de antanho, podes acenar do alto dos teus sonhos aos que te precederam na cruel jornada.

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publicado às 15:40

Cantando o vazio dos dias

por vítor, em 15.03.23

 



Queria cantar eventos grandes, dignos de um aedo, mas na minha vida tudo o

que tem acontecido tem sido normal e indistinto. Os meus cavalos mastigam romãs enquanto viajo por pensamentos ignóbeis. Quando vejo o futuro vir ao meu encontro, reparo nos dias inúteis que me esperam. São todos dias sem memória e que se não fossem vividos nada acrescentariam à triste vida que prossigo. Se fosse um homem habilidoso, poderia editar o futuro e transformá-lo a meu favor. Os meus cavalos gostam de romãs. E ouço-os ruminar a carne granulada, sorrindo ao tempo que passa. Se parasse agora, diria que a minha vida não teria valido a pena, mas isso só o sei agora. Não poderia agir sobre nada, como não se pode editar o que vai acontecer sem o conhecer. Agora, que encaro o futuro como se fosse o presente exposto num ecrã à minha frente, posso acreditar na sua manipulação, na possível mutação dos dias inúteis. Poderia, até, tornar muitos dias em dias interessantes e memoráveis. Dias sem história que se pudesse contar aos amigos depois de os ter vivido. Com gargalhadas de gente solitária e ensimesmada. Gente feliz com futuros radiosos resvalando para abismos perplexos. Multidões ululantes construindo felicidade à medida, para todos. Dias repletos de eventos excecionais. Momentos de alegria e paz, de ódio e iniquidade, como são todos os que ficam na consciência coletiva da humanidade. O meu futuro será o meu passado. Continuarei, com a tristeza dos dias comuns, a criar cavalos. As romãs que os equinos devoram livrar-me-ão da insuportável imortalidade.



26.02.2023

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publicado às 15:39

...

por vítor, em 15.03.23
Aquel árbol era más viejo que cualquier humano nacido en

los tres últimos siglos. Odiado y estigmatizado por los

mismos que lo plantaron intensivamente en todas partes

para enriquecerse rápidamente: un horrible eucalipto. Pero

este ser vivo centenario bebía de las aguas saladas de Ría

Formosa. Contuvo las arenas movedizas y el barro de

Quatro-Aguas. En los veranos largos e inclementes, ofrecía

su generosa sombra a los paseantes. Celosos de su

longevidad, lo talaron con una motosierra. Ya nadie más

abrazará su tronco liso. Desveló sus anillos para revelar su

edad a los hombres aterrorizados por la muerte. Y después

inventamos nano-chips que contenían toda la locura de

nuestra civilización.

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publicado às 15:37

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