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Para quem conhecia a história do Médio-Oriente , para quem se preocupava e preocupa com os meandros antropológicos complexos do puzzle étnico/religioso desta matriz civilizacional, era uma evidência clara (desculpem-me o pleonasmo) que a aventura militar dos Estados Unidos da América ia ser um flop . Um verdadeiro tiro no pé.
A invasão, previa-se, seria relativamente fácil. A supremacia tecnológica esmagadora do invasor aliada a um relevo e clima facilitador da deslocação de exércitos pesados e a escassa vegetação alta, que permite o varrimento rastreador de satélites e radares, seriam preciosos aliados no assalto a Bagdade. Bem ao contrário do que tinha acontecido com a guerra do Vietname . E já que falamos no Vietname , o grande trauma dos americanos que havia sido parcialmente resolvido com a reposição da legalidade operada pelos Estados Unidos no caso da 1ª Guerra do Golfo com a "libertação do Kuwait , é o próprio Bush que reconhece que a actual situação no Iraque é similar à vivida pelos marines neste país.
Como dizíamos, a invasão seria sempre pouco complicada. A ocupação, sim , seria o verdadeiro problema. Os suprasumos neocons do pentágono cometeram o primeiro grande erro depois chegada a Bagdade, após as suas delirantes elucubrações ideológicas sobre a teoria dominó para a democracia e futuros amanhãs que cantariam na região, que foi extinguir o exército iraquiano e desmantelar toda a estrutura do partido Baas . Exército e partido que aliás foram armados e treinados pelos americanos não muito antes dos acontecimentos que aqui referimos, aquando da guerra Iraque- Irão.
Teria sido mais prudente ter escolhido para líder um homem forte do exército e do Baas e feito eclipsar-se Saddam e os seus mais próximos carniceiros. Assim, com uma estrutura de poder e de força bem implantados no terreno e com cadeias de comando relativamente consistentes e operacionais , a anarquia que se instalou nos meses que se seguiram à invasão e que se foi instalando em crescendo até aos nossos dias, possivelmente, poderia ter sido evitada ou pelo menos minimizada. Sabemos até como psicologicamente o novo dono do palheiro tende a bajular quem lhe forneceu a chave do dito. E os iraquianos, se não estavam de braços abertos à espera de um invasor/ libertador (estranho binómio), certamente que não desdenhariam livrar-se de um déspota que não era obviamente amado por muitos...
O segundo grande erro foi pensar que curdos, sunitas e xiitas dariam as mão e formariam o melhor dos governos, no melhor dos países, na melhor das democracias. Não conhecemos nós cadinhos etnico-religiosos na "civilizada" Europa onde problemas similares se verificam e onde só à força de mantém o "convívio" entre partes diversas. Lembremo-nos do Kosovo, da Bósnia- Hersegovina , da Irlanda do Norte, e outros.
Mas, para não nos alongarmos muito, o mal está feito e é preciso olhar para o futuro. Americanos e, menos, ingleses, e, ainda menos, alguns poucos aliados, estão atolados no Iraque e numa situação em que sair parece não ser solução e ficar nunca será solução. Então que fazer?
A minha solução, falível como todas as soluções, será a que começa a ser, timidamente, aflorada pelo grupo Baker : envolver os vizinhos. Só que a minha proposta é mais explícita e, de certa forma, mais radical: ameaçar os vizinhos com a saída! Como?! Nenhum vizinho gosta de ter problemas à porta. A não ser que... um ou mais inimigos estejam envolvidos e altamente penalizados com o problema. Mais, que mantenham o problema controlado dentro de certos limites e que vão enfraquecendo em lume brando (pouco brando aliás) e cometendo erros atrás de erros.
Vamos fazer conjecturas. Americanos e aliados, pressionados pelas imparáveis opiniões públicas e incómodos períodos eleitorais, tudo fazem para abandonar rapidamente o Iraque. Cenários: 1- Guerra civil aberta entre curdos, sunitas e xiitas e desmembramento do Iraque em três países.
Reflexões: Guerra já é o que se passa hoje. Guerra entre iraquianos ( ou parte) contra invasores. Guerra entre grupos iraquianos. A violência e o número de vítimas diárias não nos desmente.
Desmembramento do Iraque está em cima da mesa hoje como esteve ontem e sempre estará. Ou seja não é a presença de um exército ocupante que travará esta tendência entrópica crónica.
Temos portanto que as forças ocupante pouco ajudam no resolver do imbróglio actual. Pouco mais fazem do que proteger-se a si e aos governantes iraquianos actuais. Ou seja, esgotam-se em si mesmo.
Conclusão 1 : Se as forças de ocupação saíssem com um calendário pré- fixado e lestos, poderiam fazê-lo com relativa segurança e na certeza de que não acrescentariam grandes dramas ao enorme drama que se vive hoje no Iraque. É claro que a situação poderá sempre borregar mas alguém nos garante que não é isso que já se está verificar?!
Conclusão 2 : Quem ficaria preocupado com a saída dos ocupante? Passo a enumerar: Irão, Síria, Jordânia e Turquia. Violência descontrolada e, sobretudo, desmembramento seriam o pior que qualquer destes países poderia desejar. Um país curdo então traria mesmo o consenso pleno entre eles. O que fariam? Simples. Empenhar-se-iam em resolver a crise. Melhor do que os Estados Unidos seguramente.
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