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(foto de Jorge Jubilot)
(Lido ontem na apresentação da "Revista" Sizígia, na Galeria Sul, Sol e Sal, em Olhão)
A minha mão como uma pata de elefante
sobre o teu peito, pegada profunda
escarnecendo da memória antiga
à sombra das amendoeiras esbranquiçadas,
a neve clareando o alcatrão, estabelecendo
um contínuo pesar nos lábios, na cortina
que separa a noite das inefáveis
similitudes do amor. O vento
empurrando as águas mornas
para os braços do promontório sagrado,
empurrando as águas revoltas na direção
do oceano sem fim. O teu sorriso atira
mísseis cara-a-cara na efervescência
dos rituais baratos de domingo,
nos corações que a estrada consome.
És presença sem rosto atravessando
a bruma cautelosa na clausura dos armários,
coágulo que range na reverberação
dócil dos condenados. Nas praias deste Sul intenso,
navega um subtil grão de areia rebolando
nos interstícios do verão, na melodia plagiada
infetando o sonho, num odor de alfarroba
interrompendo a dor. Agora que as malditas grilhetas
da paixão afrouxam no seio da nave
perdida nos silêncios, agarremos as mãos pesadas,
erguidas em preces fraudulentas, e arremessemos
o que resta de nós no tatuado fruto proibido.
Cativa, 22- 7 - 2014
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