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últimos - romance sem fim

por vítor, em 21.07.13
Deixo-vos aqui as palavras que ombreiam a antecâmara da maior das solidões que podem submergir uma criatura. As portas do inferno. A minha descida ao mundo apocalíptico do romance. Se acaso conseguir encontrar o caminho de saída desta escur...idão labiríntica, darei notícias. Se não...não.

A noite cai do silêncio das árvores. A luz, que se retira, incendeia o céu para os lados da cidade. Agora a solidão é maior. Maior mesmo que a noite que se avizinha. Que as noites que virão. Os passos que invadem o crepúsculo crescente dirigem-se ao encontro do nada. Onde a máscara rege o destino das ilusões compreensíveis. Diante do silêncio das árvores. Os passos de um homem aproximando-se de si próprio. Um homem atravessando a noite inicial, contornado a inquietude seráfica do real.
Nada do que transporta na memória lhe interessa. A vida resume-se à noite que anuncia o recomeço do tempo que se repete. Caminha, porque caminha, como um cão vadio, sem destino, reprimindo o desejo de voltar atrás. Aonde, sabe, imprimiu as pegadas na poeira incontornável. Na vida que também pertence aos outros. É, agora, uma imagem fossilizada que o futuro e o cansaço restituirão ao nada.
Mais uma noite inscrita na recomposição das palavras vazias, inúteis, no preenchimento das horas que antecedem a madrugada. Será assim porque será assim. Repetindo o ritual incontinente anunciado nas entrelinhas que o antanho teceu. O sacrifício é como lama à beira do precipício. Nela banharás os teus restos até ao fim dos dias. Não cairás na obscuridade do vazio infinito. Não tornarás ao chão seco da arbitrariedade.
Beberás as mesmas cervejas, soltarás as mesmas palavras, encontrarás as mesmas falas, os mesmos companheiros na tristeza envolvente; até o pensamento se confundir com a escuridão da noite.
Quando os pássaros se levantam no céu em labaredas, voltas a casa. Ao sono convulso e breve. Até à noite que se anuncia, que virá depois da luz, mergulhas no deserto branco, na imensidão vazia da página oculta onde estampas os sinais vitais que te restam. Rasgar o suporte das palavras, comportaria a libertação a que anseias. É este o dilema que te dilacera a carne. Escrever ou não escrever. Se não escrevo, morro; se escrevo, não vivo.
Sem deixar marcas na poeira da madrugada irrepetível, voltas a casa. Na Côncaba que acorda sem destino.

 

 

 

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publicado às 16:52

almadrava atuneira

por vítor, em 21.07.13
 
Eu andava por aqui quando as filmagens se realizaram. Talvez com 3 anos. Depois descobri o filme quando entrei na FCSH, na receção aos caloiros. Cravei logo o António (Loja Neves) do Cine Clube Universitário para o trazer a Tavira. Eu o Mário Rosário e o António organizámos uma mostra de cinema em Conceição e este filme foi o grande acontecimento do ano, a primeira vez que era apresentado na terra que o pariu. Com o saudoso Zé Martins atrás da máquina de projetar fizémos sessões contínuas do filme em Conceição e em Cabanas. Havia sempre alguém que aparecia para o ver e os cabanense e os conceiçanenses não se cansavam de o ver, uma vez e outra. Muita gente via os seus familiares e amigos que já não lhes faziam companhia. outros reviam, ou viam pela primeira vez, entes queridos que mal tinham conhecido ou nunca tinham visto. Foi uma loucura. Um acontecimento hierofânico inesquecível...
Infelizmente perdi o cartaz da mostra que eu e o Mário tínhamos feito para o evento. Tudo à mão que computadores era coisa que ainda não tinha chegado ao SuL...
Este filme extraordinário de António Campos está no Museu do Homem, em Paris, como património humano de qualidade estética e valor antropológico únicos.

Toda a Armação da Abóbora, que é vista neste filme, desapareceu com um forte temporal nos anos 60. Nada resta nos areais da ilha...

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publicado às 02:14


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