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Dormiu 22 anos numa gaveta. Batida numa velha máquina de escrever. Resolvi-me, finalmente. a passá-la para o computador. Noites à lareira a reviver o passado. Duplo passado: o destas terras do fim do mundo e o meu. Cá está o resultado em mais uma edição Cativa.
Anselm Kiefer
"Algarve - 12 Poetas a Sul do Século XXI", por António Carlos Cortez
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Pertencentes à geração que nasceu nos finais dos anos cinquenta ou nos inícios da década seguinte, temos José Carlos Barros, Fernando Esteves Pinto, Rui Dias Simão e Vítor Gil Cardeira.
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(…) divergem de tudo quanto seja vigilância discursiva ou teorização literária dentro do poema. Com efeito, em muito se aproximam, os poetas que têm entre quarenta a cinquenta anos, do gosto inglês (?), espanhol (?). Prefere‑se um dizer que vai mero apontamento, do sardónico e corrosivo, ao melancólico e sarcástico entregue ao tom «maldito» (especialmente em Cardeira).
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Na violenta época económica em que vivemos, poetas como Cardeira e Simão, vindos da geração de oitenta, lembram‑nos, pelo inusitado de certas construções verbais e pela sarcástica adesão a um real abjecto — que se impõe em textos de forte anti‑poesia, como que desautorizando o próprio gesto da escrita — a herança «sixties» que, neles, directamente se filia com certa poesia «beatnik». Mas algo de profundamente idealizado existe nos textos destes dois autores: por detrás do salivar relativista de tudo, esconde‑ se, por vezes aquele «fetiche do fim que dissolve a neblina» de que fala Cardeira... O mesmo é dizer que, entre gerações, as várias que aqui se reúnem, a poesia, ora como acto de imaginação, ou como engenharia verbal, ou profunda meditação sobre si própria, ora como revelação íntima ou confissão em diferido, acaba por chegar sempre aos leitores que a queiram ou saibam ler. Várias vozes são aqui alvo de reunião. As entradas sobre os autores especificam o quanto este prefácio não soube dizer. Informam‑nos sobre as linhas de leitura a ter em conta quanto a estes doze poetas.
Haverá, obviamente, quem venha a julgar programática (por algum motivo obtuso...) esta edição. Não há nada de programático. Apenas o Algarve (podia ser o Porto, o Douro, ou o Alentejo, como se disse) vem mostrar como a poesia encontra sempre ruas onde não há sinais de sentido único.
António Carlos Cortez,
22 de Outubro de 2011
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