Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



uma pedra desatenta e fria

por vítor, em 28.06.11

 

Era uma pedra dessas

Desatentas e frias

Dando conta das transferências

Suspeitas do que acontecia

Na planície em fogo destruída

Pelos momentos contidos

Que o medo anunciava.

Dessas sentadas na ordem

Eventual e permanente, no

Inexplicável esquecimento

Reduzido aos arguidos que

Encomendam as lágrimas.

À sua volta tudo mexia:

o pó, a areia, os entes

Que por si se deslocavam,

As árvores esparsas

Tudo se movimentava

Insensível à constância

Da pedra.

Alguns, raros, tropeçavam

Na pedra e interrompiam

A corrente dos que desfilavam

No plasma incontinente.

A gramática da pedra não

Exige compreensão profunda:

uma pedra resiste à análise da sua alma,

Da essência  onde repousa

O entendível. O que resta

Induz o turbilhão e a

Mudança nos fluxos envolventes.

Para o entendimento

Da correnteza é preciso parar.

Na inércia contemplamos

A mudança e abrangemos

Os elementos que se arrastam

Nos atritos que cicatrizam a pele,

As peles diversas que vestem

Os incaracterísticos materiais,

As coisas que flutuam no nada.

No algo que se confunde com

O nada aspergindo o todo

Que projeta e comporta o sonho.

Tropeçar na pedra é um

Jogo de azar que o tempo

Corporiza no pesadelo paradoxal.

Era uma pedra dessas

Desatenta e fria…

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 15:38

planície hilariante

por vítor, em 17.06.11

 

A paralisia que governa

A papoila delirante

Grita na noite esquecida.

O som que se esvai por entre

O prazer das voltas no leito

Duro das certezas

É um elixir divino rasgando

As vestes da tua irmã. A tua

Irmã que amas sentado

Na escada que conduz

Ao fogo purificador da culpa

Onde a moral asperge

O castigo ancestral da nobreza

Avançando na memória cruel

Do precipício.

Avanças no teu bocado

De amanhã e o dia estende-se,

Sem propósito visível, por entre

Os sacrifícios da canção dolente.

A viagem é definitiva e o acordar

Cerimonioso do coração embriagará

A planície hilariante.

 

Cativa,  11/5/2011

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 10:56

no infinito não há portas

por vítor, em 05.06.11

Lamento dizer-vos, sobretudo pelos possíveis danos causados às virgens úteis e aos crocodilos do costume, mas aqui tem habitado a melhor poesia dos anos 2010 e 2011. E a provocação nem é muito substancial...

 

No infinito não há portas

 

Apagaram as luzes e as questões ficaram para o fim. A breve história, que te apresentaram como metodologia para te encontrares, é um distúrbio na capacidade de enfrentar a desordem e inverter o processo que conduz à unidade mínima do amor. Queres questionar a fala dos outros, o discurso que avança na escuridão e revela a conversão da memória criando dificuldades à compreensão da linguagem. Apagaram as luzes e as certezas que alimentam as almas discretas recuaram até ao abismo das palavras primitivas. És uma bebé que sai à rua pela primeira vez. O mundo é novo e as folhas das árvores acenam-te da infinidade das almas. Nas trevas impostas, conduzes os passos acompanhando o sussurro da manada. Sem claridade, o melhor é perseguir a manifesta vontade da multidão que caminha flutuando na noite artificial e vazia. Aqui, sentes o reconforto do calor que se escapa dos corpos, a ausência de pensamentos. Só interessa caminhar na direção do infinito. Só o infinito poderá circunscrever o desejo que transportas. Nunca te ajudará a encontrar as saídas das sombras. Só saímos, ou entramos, quando há limites que interrompem as planuras, só ultrapassamos as barreiras quando nelas cavamos portas e janelas. Quando as saltas, por encantatório que te pareça, não ficas a conhecer a sua substância e, assim, não as ultrapassas verdadeiramente. A massa informe que integras, sem conhecer os teus parceiros de caminhada, irá um dia confrontar-se com o fim do pisotear do chão antigo. O mais provável é o voltear de cabeças, o recomeçar da estrada escura até uma outra possibilidade de confronto com o fim. Com a pluralidade da renovação das pegadas na pradaria brutalizada. É quando a horizontalidade esbarra com o muro violento que deves procurar chegar-te ao fim que promete o princípio. A manobra é de uma perigosidade extrema perante a deriva translacional da manada. A liberdade vem sempre após um limbo de perigosidade extrema. Se escapares ao esmagamento da dor que te acompanha, estarás (enfim?), só entre ti e o obstáculo que te limita a visão do que está para lá do fim. Ainda não chegaste aos territórios onde a tristeza é uma forma de ser livre como outra qualquer. Ainda tens que abrir uma passagem no muro de silêncio que se ergue à tua frente. Ainda estás a tempo de voltar e integrar o silêncio, regressar ao conforto dos sussurros que evoluem na obscuridade. (lembra-te que apagaram, há muito, as luzes) A escolha é tua. Só tua. Não é uma questão entre regressar e renascer: o renascimento é, ele próprio, um regresso. Um regresso ao futuro. O futuro é a tua escolha. Ousar enfrentar o desconhecido ou aceitar a benevolente oferta do caminho trilhado no pó que se levanta das trevas. Para lá do muro, existe um mundo sem portas nem janelas pejado de cadáveres que se atreveram a ser livres. O infinito é uma prisão sem referências. Não há portas para abrir na imensa vastidão sem fim.

 

VRSA 24 de Maio de 2011

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 15:04


Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.


Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2017
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2016
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2015
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2014
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2013
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2012
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2011
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2010
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2009
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2008
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2007
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2006
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D