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ela sorriu transportando a paisagem
que reforça o intervalo entre o fim e o
princípio num lago de nudez abreviada
sorriu e chamou a pertença consagrada
nos limites, parceria indisponível transcrita
no lugar, dúvida importada, preconceito inicial.
O escuro manso dissolveu a responsabilidade
em escaramuças militantes, entendimentos da viagem
desvalorizada, última dissolvência impaciente
perdendo o consenso na distância coreográfica.
o sorriso da mulher que percorre o olhar
ingrato da única vitória dos abstencionistas
curiosos, maioria significando a aposta
nas flores, diz-nos da crueza do obstáculo,
da dor na noite recuperada da berma do caminho,
legitimidade do pesadelo indocumentado,
metade da dor marginal, sorriso do poder
que se eleva nas faenas do sexo consumidor
dos corpos raivosos e sectários,
discurso ressentido e parcial.
A atenção do outro não reflete o estado
de embriaguez vazia que conduz
a relativização da evidência, transformação do novo
interpretando a inocente figura que emana
do sorriso absoluto.
gere a desorientação responsável pelo ruído
da alma vestida de palhaço incompleto,
reduz o exemplo da hierofânica verdade dissoluta
no lodo evidente, sonsura dominante nas cicatrizes
do calor, da insânia sedimentada nos ritos
do calendário social que alguém parodiou
no equilíbrio sem paixão dos convertidos, explicação
corrosiva no pó que se eleva nos atalhos
petrificados da memória.
ela sabe como podar as ideias
que se desprendem do oculto sabor a derrota,
mutilar o chão onde navegamos à vista
e contendemos com os ossos que se erguem do tempo.
ela é um implante na paralisia do medo,
na arte de inventar placebos, paixão
na imensidão do caos.
sorri e não colhe. As manadas assentam
os cascos na viscosa película dos afectos.
MG 25/1/11
dirias que a sanidade mental é um pergaminho afixado na parede para ser lido por quem não sabe interpretar as palavras lavradas na pele antiga.
Logo a seguir ao 25 de abril de 1974, tinha eu dezasseis anos, fui com uma amiga ver o Último Tango em Paris ao cinema a Faro. O filme fazia furor em Portugal sobretudo pelas cenas de sexo, coisa nunca vista por cá. A película era para maiores de dezoito e era um problema para eu entrar. A minha amiga já tinha dezoito anos mas eu tive que fixar o nome e outros dados do bilhete de identidade do seu namorado ( tempos libertários aqueles), e, nervosíssimo, ultrapassar o porteiro com o documento de identificação emprestado. Como era um rapaz desenvolvido para a idade e exibia uma barba respeitável, lá entrei com facilidade. Adorei o filme e sobretudo... o Marlon Brando. O pior foi responder à pergunta do meu pai, no outro dia, sobre a cena da manteiga.
Hoje morreu a Mary Schneider e eu já não tenho dezasseis anos.
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