Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Depois da alfarroba, vem o figo seco. Para torrar, para os doces de todos-os-santos (figos cheios e estrelas com amêndoa), para encerar e para levar à destilaria fazer aguardente de figo. Passei. Depois vêm os marmelos. A marmelada, o doce de marmelo e a geleia já se servem ao pequeno-almoço, ao lanche e à sobremesa. Depois vem o vinho.Passei. Depois vem azeitona. Noutros tempos já tive azeite todo o ano e ainda para dar aos amigos. Varejar azeitonas é um suplício. Apanhá-las, super complicado. Desisti. Já as ofereci aos vizinhos mas nenhum, até agora, pareceu aceitar tão generosa dádiva. Hoje decidi-me apanhar algumas para conserva. Petisco admirável mas nada aconselhável para a saúde. Sobretudo para a próstata... Meti a pick-up debaixo de uma oliveira de frutos gordos e saudáveis, subi para as traseiras e apanhei as melhores azeitonas da árvore.
Sei fazê-las britadas, retalhadas e de sal. As britadas são as primeiras. Ainda pouco maduras dá-se-lhes uma martelada e põem-se em água e sal. Muda-se a água de dois em dois dias e quando já estão comestíveis junta-se-lhes os temperos. Alho, poejo, orégãos e outras ervas aromáticas. As retalhadas, já maduras, levam cortes em quatro semi-meridianos e seguem-se os procedimentos das britadas. As de sal fazem-se a partir das azeitonas mais maduras, já arroxeadas, às vezes apanhadas do chão, e entremeiam-se durante um mês com sal. Depois são escaldadas com água quente e servidas com azeite e cenoura cozida. Hoje dediquei-me a retalhar azeitonas pela tarde. É uma tarefa perigosa. Roda-se a azeitona (movimento de rotação) e vai-se dando cortes (3 ou 4) longitudinalmente. Para além de salpicar sumo de azeitona por todos os lados, o que exige o uso de um bom avental, é um milagre não cortar os dedos. Tudo correu na perfeição e as azeitonas já estão em água e sal à espera que o tempo, e a mão do artesão, as tornem deliciosas.
Depois vêm as laranjas ...
Não há nada como viver num apartamento...
O conhecimento e a arte só são importantes enquanto instrumentos de sobrevivência ou como ocultadores da morte. O resto... o resto é a ganga da memória. O supérfluo que rouba o esplendor ao crepúsculo...
O 4º Prémio Cativa foi atribuído, segundo a lógica, no dia 10 do 10 do 10. Este prémio, com que esta modesta casinha galardoa alguém que se tenha destacado no campo da cultura, da solidariedade ou da defesa do meio ambiente, vai pela primeira vez para uma mulher. Uma mulher que se destacou, nos últimos anos, na defesa da educação e dos direitos das minorias. A premiada, este ano, é Ana Drago, socióloga e deputada do bloco de Esquerda e, além disso, ... uma mulher bonita.
pgenzgtjfmdxnahgakc,codn o+ a4 fll,
Piso os paralelepípedos da rua molhada pela humidade vigente
Na esquina da anterior profusão de loucura, invento o entendimento
Possível com a escrita que se desembaraça dos outros cosmos
Sentindo a separação indomável, grito do resto da noite que caminha
Até ao fim da rua onde começa a plenitude do restolho húmido e mole
Do Inverno que se avizinha a jogar dados num gozo, numa futilidade
Que faz milagres nas ruas encantadas por físicos e outros mágicos revisitados
No ridículo de uma pedra saída do lugar na calçada luzidia, parando
A vontade dos que construíram a rua sem fim, publicando, simultaneamente, o decreto
Da interdição de parar.
Menos um entrave, diriam os hagiógrafos do local oculto onde se repetem
As existências do real. Assuntos frívolos sem sentido intelectual, beleza que consiste
Na insolvência da poesia erótica. Coisa assim, ou sim sim, no foder incontrolado, apascenta
Os queridos caçadores de pseudodesenhos futuros, animação em plasticina, felicidade
Na ponta da piça, que serão os detentores do nosso voto: o futuro agora!
A propósito, amo pontos de exclamação, uma descoberta genial
Sem escolha, uma figura de cabeça para baixo na sombra das palavras. Pão e circo, orgia Romana, sombra, sombra ardente decifrando os quase famosos.
O futuro é agora! Vamos baixar as conquilhas experimentais da autocrítica. Baixá-las
Até a dor rasgar a genitalidade das criaturas emancebadas. Não há duas sem três, nem três sem outra vez.
Mais liberdade é um silêncio colectivo participando na instalação poética que divulga o halo
Anónimo de outras páginas. Do estertor da outra margem.
Caminho na rua molhada e resvalo na procissão dos que procuram a claridade da sombra.
Monte Gordo
11/10/2010
Era Agosto e o Verão de 1982. No dia 3. Os U2, praticamente desconhecidos, deslumbraram os que tiveram o privilégio de estar nessa noite mágica, no campo de futebol da pacata aldeia de Vilar de Mouros. Eu era um deles. A minha vida mudou até para lá dos fins dos tempos. Foi lá que conheci a mulher que desde então acompanha os meus dias. Até para lá do fim dos tempos.
Continuei a seguir a carreira fulgurante da banda e a ouvi-los. Nunca mais os tinha visto. No Natal passado, mão amiga, sabendo da importância da banda nas nossas vidas, ofereceu-nos dois bilhetes para o concerto, longínquo (no tempo e no espaço), de Coimbra. Dia 3 de Outubro de 2010. Lá fomos, sem os filhotes, como no início de tudo. Chuva torrencial na tarde. Os deuses protegem os audazes: uma noite maravilhosa.
Um concerto extraordinário, uma banda do outro mundo: um profissionalismo e um rigor insuperáveis, uma simpatia contagiante, uma parafrenália tecnológica louca e surrealista, um palco irreal e flamejante, uma massa humana rendida e em transe. A eficácia retira um pouco de emoção, o perfecionismo é inimigo da sensação. Aquela mágica noite no Norte não tem comparação... Tínhamos todos 20 anos, é certo...
PS: O filme, interessante como registo memorial, foi feito pela Bé.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.