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Cale-se tudo o qua antiga musa ...
quando me dizes que tudo o que faço se contradiz na penumbra da ilusão, na obscuridade daquilo que se esfuma nas tardes difusas. respondo que a ilusão é o acidente que fratura o tecido das relações concretas, das ligações invioláveis, a fronteira entre o que sinto e o que tu sentes. aí, nessa intersticial terra de ninguém, a felicidade impera. a simplicidade não se opõe à complexidade: os laços que construímos e construimos serão a razão da vida que nos une.
Esta é a tua nova casa
Uma casa onde não conheces ninguém
E onde te podem receber como um intruso.
Entra como se a confusão que transportas
Não te curve o peito
Mas não mintas, não te finjas sereno
Os que habitam a casa
E os que, como tu, a irão habitar, serão implacáveis
Com as similitudes da falsidade
Transpõe a porta e aceita o que te vai envolver
Não sonhes alto, não vaciles nem cedas perante o medo.
O impossível é um conjunto de pensamentos
Que se apoderam de ti, que te atiram contra as paredes caiadas
Do frio que consome as criaturas sem destino.
Não pareças um indivíduo sem raízes,
Puxa-as para dentro de casa sabendo sempre que restarão
Filamentos que se agarram às terras, aos caminhos,
Onde já foste o que não és.
Ninguém cabe totalmente num espaço edificado por outros
Nem nas amizades por construir.
O que te interessa é o colocar das pernas no perímetro futuro,
Arrastar os passos sem considerações pré-concebidas,
As pernas arrastar-te-ão no sentido do inacabado
Na irresistível corrente de lama que respira na noite.
Agora a tua viagem será no interior das paredes sólidas da solidão.
Vai e nunca refiras que é a tua primeira casa.
Vila Real 1/9/10
Monte Gordo 14/9/10
Setembro é um mês terrível. Recomeça o trabalhinho que permite obter as coisas para o dia-a-dia, inicia-se a campanha da alfarroba. O preço cada vez baixa mais ( o ano passado a arroba era a 4.80 €, este ano é a quatro) e a paciência cada vez é menor. Como já vos disse é um trabalho bom para filosofar, para o encontro connosco e com a "natureza". Mas passar horas a varejar, a apanhar e a transportar as sacas para o armazém é um exercicio de filosofia zen que me começa a pesar. Este ano, ando na campanha com o meu filho mais velho. É uma epécie de represália pelo seu primeiro ano de faculdade desastroso. Coitado, doi-lhe tudo e arranja todas as desculpas possíveis e imagináveis para se cortar.
Para o ano tenho que arranjar alguém que me faça o trabalhinho. Como?, não sei ainda bem, mas alguma coisa se há-de conseguir. O que me consola é que o trabalho na terra funciona como a frequência do ginásio. Já começo a ficar com um cabedal de fazer inveja aos cinquentões, e às cinquentonas, cá da terra...
Ainda por cima, o trabalho/trabalho, este ano, tem a novidade de se iniciar com os tais de mega-agrupamentos e tem sido uma mega confusão. Mas não há-de ser nada.
Temos portanto uns dias em cheio: de manhã e parte da tarde, mega trabalho com novas caras, novos espaços, novos procedimentos, novas manias e novas confusões; ao fim do dia, alfarroba e mais alfarroba; à noite, aniversários de amigos, amigos que chegam e que partem (copos e tabaco em excesso), filhote mais novo que sai com os amigos, etc,etc,etc. Tem sido duro. Amanhã, tudo recomeça.
O que me consola é que, depois de um Verão extremamente longo e quente, vem aí a chuva e o frio...
Velho antropólogo atravessando o Atlântico para estudar comunidades efémeras numa ilha exótica.
Enquanto o tempo se escoa lentamente ...
Entranhando-se no espírito do "campo" ( até a barriguinha é fruto de preparação prévia para a observação participante...).
O trabalho de campo é, por vezes, duro e solitário. No entanto...
... sem uma boa equipa de trabalho, coesa e competente, todo o esforço seria em vão...
" Eu venho de muito longe, eu venho de muito longe. Sempre à beirinha do mar, sempre à beirinha do mar...". Versos de uma conhecida música para entreter comunidades efémeras.
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