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Como nos tempos de criança, em que ia com o meu avô Pedro e o meu tio Romão à pista do Ginásio ver os grandes do ciclismo dos anos 60, o ciclismo em Tavira continua a dar felicidade a todos os tavirenses.
PS: Curiosamente, acabei a minha carreira de futebolista a sério no Clube de Ciclismo de Tavira, num jogo de pré-temporada contra o Louletano em Loulé. Penso que essa época foi a única em que o CCT teve futebol. A minha ida para a faculdade, em Lisboa, acabou com uma longa carreira de futebolista nos vários clubes da cidade, desde miúdo..
Ontem, enquanto lia o jornal na esplanada do Casal, em Vila Nova de Famalicão, os olhos brilharam-me, subitamente, na sombra centenária dos plátanos. Uma fotografia de um querido amigo encimava a página 13 do jornal (a página 13 de uma sexta feira 13 - coincidências, meras coincidências), o sorriso foi-se abrindo, até quase à gargalhada suave: "O escritor, dramaturgo e antropólogo António Pocinho, autor de Elucidário Sexual, Pés frios dentro da Cabeça - (a gargalhada enrola nos lábios perplexos) - ou A Ilustre Máquina de Ramires, - ( a gargalhada rebenta na face como pára-quedista que estoura no chão com o pára- quedas por abrir, e acodem-me gritos que sacodem a memória e me arrastam num sofrimento indizível até aos confins da dor) - morreu quarta-feira, em Tomar, aos 52 anos..."
Na terra dos antepassados, que nos pré-existem e que nos sucederão, onde o principio e o fim, o nascimento e a morte, fecham o ciclo da cultura, apresentaremos o brutal teatro que nos envolveu a vida.
Já à venda online. A obra é fantástica. O artista assim-assim. Vale a pena comprar. 1º edição e obra total do artista: criação, capa, paginação.
O livro, em si, está barato. Os portes encarecem-no. Mas valerá sempre a pena. O autor, ou seja moi, se o quiser ter, também tem que pagar. E muito mais caro, muito mais caro...
Divirtam-se lendo!, é o desejo deste humilde transeunte.
Fui hoje, sob - que mais parecia sobre -, um sol escaldante, "acompanhar" o meu amigo Mané até ao cemitério da Conceição. Há alguns anos que pouco falávamos. No final da adolescência, eu saltei do seu barco, ou melhor, foi ele que saltou do nosso barco, que abandonou a navegação à vista, e enveredou por uma rota que nos trouxe até aqui. Eu vivo e perturbado. Ele defunto e sereno. O contrário das suas vidas. Ele caminhando à beira do precipício. Gozando o medo dos outros e sua própria vertigem: o suicídio lento e doloroso da embriaguez permanente. Da festa sem fim. Vivia sozinho desde cedo. A morte prematura do pai e a migração da mãe (com a irmã) para a Suíça dava-nos, egoístas, um fantástico covil para as piratarias da juventude. Depois de noites memoráveis pela praia e os bares de Cabanas, recolhíamos a sua casa até a madrugada desembocar no dia. Noites de muita loucura. Noites incontáveis. Eu,e outros, sabendo que a festa não é eterna fomos entrando, aos poucos, na vida séria. O Mané continuou o seu percurso até ao fim.
Fininho, de rabo de cavalo longo, sempre de negro era das figuras mais carismáticas de Cabanas. Sobretudo da noite. Com uma alegria transbordante e um humor inteligente, seco e corrosivo, ninguém lhe ficava indiferente. Não havia visitante da povoação que não o viesse a conhecer. A sua vida intensa e no fio da navalha não o impediram de trabalhar sempre. Como barman (sic), empregado de cozinha, empregado de mesa e outros ofícios ligados ao turismo. Namorador e apreciador da beleza feminina, o amor de uma austríaca (conhecida na noite local), leva-o à Áustria onde vive algum tempo trabalhando em restaurantes. Volta revoltado com vitória da extrema direita. A degradação das bordas do precipício levam-no, cada vez mais, a aproximar-se do fundo. Uma amiga minha tinha-o visto há poucos dias numa cadeira de rodas empurrada pela austríaca. Pensei ir vê-lo à "nossa casa". Tinha medo de o encontra no limbo. Ontem na feira da Conceição, e na noite de baile e cerveja que lhe está associada, soube da notícia. O Mané tinha partido para a terra de onde veio toda a gente e para onde toda a gente vai.
No cemitério, que une os mortos de Cabanas e Conceição, está parte da minha vida. Uns sairam no final da cerimónia. Outros ficaram. O Mané, com uma cerveja numa mão, coloca-me a outra no ombro, contorce-se ligeiramente e solta uma gargalhada que ecoará para sempre nas terras da ria.
*Nestas terras do Sotavento, quando alguém refere um falecido, coloca o adjetivo "descansado" antes do nome do referido não vá o dito vir incomodar o referente.
PS: Por ironia do destino, quando me meti no carro para ir "acompanhar" o Mané, liguei o rádio e começou a tocar a música que acima inseri. Os Doors acompanharam-nos e acompanham-nos para sempre.
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