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Meus amigos e minhas amigas, chega de correrias nos antros abomináveis do capitalismo para me encontrarem a prenda merecida. Até ao ano que vem basta-me a que este Domingo recebi.
BOAS FESTAS a todos que eu estou na maior.
O novo livro do poeta Rui Dias Simão já borbulha, ígneo, nas rotativas do tempo próximo. Poemas do Banco de Trás, assim se nomeará o dito (so?), sairá (saltará) para a luz dos dias nos alvores de 2010. A editora, a de sempre. A que existe para o editar (e celebrar:) Edições Cativa.
Só para vos deixar hiantes de perplexidade, aqui vai um cheirinho daquele que irá ser, seguramente, o grande acontecimento literário nacional do ano que vem.
COMPREI UNS SAPATOS NOVOS
assiduamente à derriça que me envolve
o corpo, este corpo de lama, que sempre
fecha as portas ao silêncio vivo.
Não sei como nem porquê, entrei numa
casa e trouxe uns novos sapatos novos.
Este grito lunissolar que me apaga
os olhos, resmunga nos espaços entreabertos
e moribunda o caminho que adivinharia
a simplicidade interior.
Não sei ainda dizer adeus às flores mortas,
aos rios apagados, às veredas cansadas,
aos labirínticos dizeres das pessoas
Mas existe, existe algum lume
para dizer mais do que esta página
riscada pelo avançar da noite, quase
rosnando para a quimera da falta
dos espaços planetários
Não sei como nem porquê mas
regresso de muito em vez à sombra
dos lugares que me apagam a pele.
Onde estás tu, ó amplexo fantástico
das vozes luminosas - tal qual -
pois não sei como nem porquê mas
já se percebe o estiolamento prematuro
deste animal num fogo diurno
dos seus aparentes dias azuis.
Comprei uns sapatos novos.
Estou a jogar à sueca na praia
eu e mais dois freaks
às vezes vou mijar por causa da cerveja
sinto-me mal
podia sentir-me pior
há sempre um barco com pescadores a esperar pela solidão
enquanto nós sorrimos
ás vezes penso que já fui campeão de dados do Algarve
(em, creio, 1937)
Dói-me não estar contigo mas o que me dói mais é não estar
comigo quando não estou contigo
um alemão atirou-me uma batata (agora sei que cozida) à cabeça
quantas tendas na minha cabeça
dói-me o (ainda) não te poder beijar
compreendes o que é não te poder acariciar? ( com certeza não...)
Enrolo sem saber. Um cão acariciou-me os pés.
Adoro-te
é terrível, é difícil o coração sentir-se em liberdade
por isso sinto vontade de chorar de mansinho. Sim de mansinho
porque não gosto de esperar conselhos (talvez carícias) dos outros.
Espera, a luz do Sol está a corromper o mar
vês os meus olhos a correr por entre as dunas
não?
Para mim é sempre triste sonhar os pesadelos dos outros
mas para quê espremer cebolas nos olhos
não basta o voar das gaivotas cabisbaixas?
Quero estar contigo sempre e os desejos são sempre
pássaros de cabeça enterrada no mar. levanto-me
ao som de três espingardas sem balas.
O planeta (que é o meu) parece morrer
as galinhas parecem rejeitar crocodilos já rejeitados.
Para a semana vou (envol) ver-te, até lá pensa
em tudo o que é a nossa capacidade de gostar um do outro
um beijinho (talvez sem sentido) do eu.
PS: escrito há mais de 25 anos por um jovem perdidamente apaixonado.
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