Um homem triste
Atravessa a linha do horizonte
Transporta nas mãos
Um saco de sonhos desfeitos.
Uns, tornados reais, dilacerantes
Outros possíveis e intocáveis, refractários
Alguns impossíveis, opacos ao alcance dos cabelos
Entornados.
Na enlameada estrada da vida
A existência comprometeu-lhe
Sorrisos desafiantes
Efémeros e vãos
Num cadinho de ilusões borbulhantes.
Atravessa o horizonte
Deixando atrás dos seus pés
Um rasto de flores, cemitérios e
Paixões
Um pesadelo, hálito incandescente
Na composição das águas
Em solavancos etéreos e ocos
Montanhas por cumprir sem
Compaixão desinibida.
Alguém cria na noite inabitada
De seres semeados em bandos de aves
Brancas
Calafrios gritantes na escuridão da mente entupida.
Alguém elabora um critério
Estranho e melancólico
Para avaliar os que tombaram
Nas ladeiras íngremes sem olhar
No soluçar prenhe das conveniências
Saltando degraus no comboio parado
Fora dos ferros paralisantes
Na implosão doentia
Das criaturas ofendidas.
Num caldo morno que arrefece
(O longínquo nascimento das púrpuras mamas entumecidas)
Apontando o sexo da minoria escalavrada
Os servos da orgia viciante e vermelha
O rio, a garça, sem graça, cinzenta que persegue
Os peixes voláteis
Sem tempo no tempo interminável.
Hoje atravessas a linha flutuante
No futuro perpetuas a árvore de pé
A teus pés
És um homem ensimesmado sem contornos
Reais.