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O homem criou deus ao longo de milénios. A obra é o que é. O homem o fez o homem o fará desaparecer. Perecerão juntos... e parece-me que, como sempre, a desconstrução será mais rápida do que a construção. Muito mais rápida...
A vida, esta vida, não faz sentido sem a morte. Paradoxalmente tudo fazemos para fugir a esta última. Uns escolheram o embuste já há muito traçado: a religião. Enganam a si próprios crendo numa vida eterna e bem melhor do que a sacrificada que levam, para além dela. Virgens e outros petiscos assombrosos os esperam post mortem . E quantos crimes se cometem procurando uma passagem rápida para este mundo sensacional sem sensações. Sem sensações porque sem o bem não existe o mal. Num mundo paradisíaco não há festa, nem rito, nem mito. sem rupturas persiste a morte. A vida no "céu" é, assim, a confirmação da morte.
Outros tentam, desesperadamente , sobreviver através das suas criaturas. se as criaturas têm memórias (são vidas), pode-se prolongar a vida depois da morte. Familiares, amigos, inimigos e simples conhecidos transportam-nos mesmo depois dos bichos terem começado o seu trabalho após o último suspiro. Mas estas criações efémeras depressa nos seguem no caminho sem retorno e com elas morremos outras vezes. Mais uma vez a morte nos é favorável: quantas mais vezes morrermos mais tempo persistimos vivos.
Finalmente os desafiadores da morte que através da criação artística pensam livrar-se da velha senhora. Estes crêem que as suas criações serão o garante da sobrevivência histórica. Quanto maior a criação, maior (e melhor, diria eu) será a viagem pelos labirintos da existência. Fecha-se o círculo. A arte imita a religião. O eterno encerra-se no fim. A criação e o criador, o grande criador, frente a frente nos confins da planície eterna. No vazio estéril da unicidade. No retorno (eterno) ao tempo antes da vida. No regresso ao aconchego da não existência.
A criatura autonomiza-se e rejeita o criador no momento da "ultima cinzelada". Seguem caminhos diferentes e por vezes antagonizam-se e anulam-se. A sobrevivência da criatura não transporta a imortalidade do criador. Nem mesmo quando a criatura se torna num mundo dentro do mundo e se impõe como parte da história da humanidade. O artefacto artístico, aliás, não existe em si. É apenas um feixe de sensações na psique dos que os apreciam. Uma miríade de complexos que os sentidos peneiram e revolvem até ao destino final mas não último dos vivos. Quando ouço as sinfonias da Beethoven, não reconheço nelas um velhinho surdo e triste . Quando admiro os "Girassóis" de Gog , nunca me sinto transportado à húmida e sombria juventude do seu criador, nós férteis polders dos Países Baixos, quando me envolvo nas palavras proféticas de Pessoa, não vejo um ser andrógino esgazeado pelos vapores do álcool.
Ao contrário de Camões, não entendo a arte e a glória como uma forma de libertação da morte. Penso a vida mais como um "filósofo politicamente incorrecto": " Cago na imortalidade sem corpo"!
Este é um blogue de esquerda. Todos os que por aqui passam o sabem. No entanto vou desiludir muitos com este post .
Sou contra referendos. Ou melhor, acho que referendar algo só em casos verdadeiramente excepcionais e mesmo assim com reticências. Tipo:
Concorda com a integração de Portugal em Espanha, passando a constituir uma das suas regiões autónomas?
Ou, Concorda com a reintrodução da pena de Morte em Portugal?
Ou ainda, Concorda com a restauração da monarquia em Portugal?
Como estas questões seriam sempre raras, estapafúrdias e excepcionais, sou, em regra, reafirmo, contra referendos.
Acredito na democracia, confio na representatividade dos eleitos para decidir e aceito a vontade da maioria dos representantes na Assembleia da República.
Em tempos de populismo e de desconfiança em relação aos eleitos e aos políticos em geral, penso que ainda é mais pertinente a negação do poder dos referendos. E os políticos são como os outros profissionais. Há bons, maus e assim-assim. Ainda por cima têm que ter uma cachola que poucos possuem e aguentar com todo o tipo de enxovalho sem poder, quase, responder. Alguém imaginaria um ministro a chamar mentirosos e corruptos a sindicalistas? Os políticos têm de mentir algumas vezes e outras de ocultar as suas verdadeiras vontades. E isso é próprio do seu difícil ofício. Quem ganharia eleições se dissesse que ia congelar salários, aumentar impostos ou fazer outras malvadezas do género? E que poderia um ministro responder a um jornalista perante uma pergunta do género: É verdade que Bin Laden introduziu no país operacionais da Al- Qaeda e se prepara um violento ataque terrorista? Claro que iria dizer que não era verdade, que o país estava perfeitamente calmo e em segurança e que a polícia controla qualquer actividade que ponha em causa a segurança dos cidadãos. Mesmo sabendo que era mentira e que o risco de atentado era elevado. Outra resposta poderia dificultar os trabalhos das polícias e levar o pânico às populações.
Voltando aos referendos. Estes são uma verdadeira arma nas mãos de políticos populistas. Estou até convencido que num referendo sobre a pena de morte se correria o sério risco de ver ganhar a hipótese da sua reintrodução.
Vem tudo isto a propósito de referendar ou não o tal de Tratado Reformador (seja ele constitucional ou não). Sou profundamente contra. Compreendo perfeitamente os argumentos (cínicos ) do Partido Comunista e do Bloco de Esquerda. Num referendo iriam capitalizar os votos contra, que seriam sobretudo votos contra a situação económica, as medidas anti-sociais do governo e o medo da perda de soberania nacional. Com os partidos de centro-direita apostados na aceitação do tratado, era só facturar. Esta última ( a questão da soberania e da independência nacional)que constitui um logro obeso e facilmente desmontável. Quanto mais integração maior é a força de um pequeno país como é o caso de Portugal. Na comunidade podemos fazer ouvir a nossa voz e influenciar o nosso destino, aqui e no mundo. Sós, ninguém nos ligaria. Foi sempre assim. A nossa independência e a nossa soberania foram bem sentidas aquando do Ultimato inglês, em 1890, ou perante a invasão dos territórios de Goa; Damão e Diu. Inversamente, foi o peso da União europeia que nos ajudou a impor os nossos interesses na questão de Timor.
O eng . Macário Correia está cansado de Tavira. Depois de ter apostado tudo no cavalo errado nas directas do PSD ( e a cara com que apareceu na noite da derrota, ao lado de Marques Mendes, diz tudo sobre a sua imensa amargura), volta a apostar, numa reviravolta de 180 graus, no novo paradigma populista de Meneses. Em nome da unidade do partido, ei-lo de novo na estrada que o poderá levar para longe de Tavira em 2009.
"Estamos aqui para dizer que queremos trabalhar com moderação e poder ganhar em 2009. Temos de trabalhar todos do mesmo lado", foram algumas das palavras de Macário Correia, cujo discurso foi logo de seguida aplaudido na intervenção de Marco António Costa, um ferveroso adepto do novo manda chuva do partido.
Como autárquicas e legislativas vão ser coincidentes no tempo, já estou a ver a estratégia. Candidatar-se de novo à Câmara ( o PSD de Tavira, sem ele, é um deserto estéril) e, se os laranjas ganharem as eleições para a Assembleia da República, dar o salto para o governo da nação.
A estratégia comporta poucos riscos:
1 - Com a ineficácia política do PS local, as eleições locais serão um passeio já visto anteriormente;
2 - Se Meneses não ganhar ( o mais provável) não será responsabilizado;
3 - Neste caso, será até um vencedor. A sua primeira escolha não foi esta;
4- Ficando na presidência da Câmara continuará a ter um palco previligeado e rampa política para novos voos na política nacional. Uma espécie de reserva moral dos social-democratas.
Para nós, tavirenses, o mais provável é passar a ter um presidente triste e demotivado com tudo o que isso comporta de negativo para o nosso desenvolvimento. Aí,os interesses imobiliários poderão, finalmente, tomar conta dos nossos destinos. A vida tornar-se-á impossível para os que amam esta Terra.
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