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Quando há dez mil anos a subida do nível do mar, provocada pelo degelo da última glaciação, isolou a Tasmânia do continente australiano, os indígenas pareceram ter perdido as competências para pescar, acender o fogo e coser. Regrediram em relação aos seus irmãos aborígenes da imensa ilha-continente , vivendo na maior simplicidade imaginável.
Em 1772 aportaram à ilha os primeiro colonos europeus. Os povos autóctones pouco se importaram com a sua presença e continuaram a seguir os seus modos de vida. Ou melhor, continuariam se os recém-chegados não lhes tivessem movido feroz perseguição. Não dispondo de qualquer defesa em relação aos invasores, rapidamente o seu número foi diminuindo e por volta de 1830 não passariam de 72, dos inicialmente 5 000 habitantes originais. Desde a chegada dos empreendedores colonos, foram utilizados como mão-de-obra escrava e como objectos sexuais e, sadicamente, torturados e mutilados. Foram caçados como animais e o governo oferecia vultuosas somas pelas suas (imaginem) peles. As mulheres dos homens mortos eram obrigadas a deambular com as cabeças dos maridos penduradas ao pescoço. As crianças mortas à paulada. Os homens que sobreviviam, castrados.
William Lanner , o último indígena do sexo masculino, deixou o mundo dos vivos em 1869. A sua cova foi aberta por um membro da Royal Society da Tasmânia, o Dr. George Stokell que (agarrem-se bem) fez da sua pele uma bolsa para tabaco. (Como Hegel bem demonstrou a lógica protestante é mesmo tramada para o negócio).
A última mulher aborígene pura da Tasmânia morreu poucos anos depois tendo-se, assim, consumado o genocídio.
(Parece uma história do princípio dos tempos, mas foi há menos de 200 anos ).
Portugal é um país pequeno. Pequeno em área física. Hoje, e cada vez mais, Portugal confina-se à cidade de Lisboa. O resto do país só aparece pelo sórdido: uma ponte que cai em Entre-os-Rios, uma criança que desaparece no Algarve, um apito dourado no Porto, uma casa de regabofe pedófilo em Elvas.
Lisboa é uma cidade pequena. Todos se conhecem. Na cidade existem duas castas bem distintas. As elites, vivendo nos mesmos espaços e movendo-se nas mesmas "instalações" e os, digamos, "deserdados da sorte", vivendo nos arrabaldes da "não inscrição" e entorpecidos pelas novelas e concursos de televisão. Cada vez mais separados no espaço e no ser. Os condomínios fechados, para as elites culturais e políticas e os bairros difíceis (na verdade também fechados) para o lúmpen indiviso da multidão anónima.
Como ia dizendo, Lisboa é uma cidade pequena onde todos se conhecem. Todos os conhecidos como é óbvio porque os que não aparecem na tv não só não existem como ninguém os conhece. Sendo claro que hoje a existência não é, ela só, pressuposto de conhecimento. Ou seja, pode-se ser conhecido, e bem conhecido, sem nunca ter tido uma existência real. Basta pensar no Harry Potter ou no Sr(?) Klark Kent.
Como uma escola americana de Antropologia de meados do século XX, estudando pequenas comunidades rurais da Andaluzia, mostrou, onde os vizinhos todos pertencem a um “nós” coeso e próximo em interesses e objectivos, existe um patamar de realização para o “eu” que estes cientistas sociais entenderam apelidar de “limited good”. Se ultrapassas este tecto usaste certamente ferramentas ilícitas, do ponto de vista moral e real. Exemplifiquemos: se tens muito sucesso com mulheres, usaste filtros, pós, magias, chantagens misteriosas não correctos e inaceitáveis contrariando o livre arbítrio das conquistadas; se tens sucesso com o dinheiro, é porque traficas drogas e outros produtos afins; se falas muito e bem, só nada podes dizer. Os bens ao dispor da comunidade são finitos e o seu acesso nivelado por baixo. Se o nivelamento fosse por cima corria-se o risco da sua escassez.
Ora em Lisboa o “limited good” é imposto de forma implacável. Os ódios são mortais entre os portentosos contendores na escalada social. Utilizam-se as mais inimagináveis, criativas e mortíferas armas. Nos estreitos palcos da contenda os truques sujos são aplicados sem remorsos e de forma maquiavélica. Quando ouvimos, o que é frequente nos nossos dias, falar de cabalas, conjuras e ajustes de conta, não estamos a usar da metáfora como meio de expressão. Estamos a ouvir os relatos de uma luta intestina incessante e, muitas vezes, com um fim irreversível e dramático. A lama. A mais baixa das mais baixas castas. A lama moral de onde mais não se pode sair até ao fim dos tempos.
E, para não me alongar mais do que já estiquei neste modesto post, assim vai este lindo Portugal. Perdão esta “bem cheirosa” cidade de Lisboa.
Ele é já o homem mais procurado no país. O ilustre desconhecido benemérito do CDS/PP, Jacinto Leite Capelo Rego, não deu ainda sinal de si.
Dão-se alvíssaras por notícias suas.
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