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O teu recado não chegou até mim
Não vou esperar mais, tenho fome
De me inscrever nos raros diálogos da espera
O teu recado pode vir sereno e criptado ,
Comovente e absoluto de emoção
Não vou esperar mais, tenho sede.
Os muros que te envolvem agridem as minhas insuficiências
Ampliadas pelos ventos em que flutuas
Incompreendidas nos sentidos inquietos.
A espera revela-se unívoca
Rasgando o corpo carente e sombrio
Abandonado no ventre da solidão
Puída na triangulação divina dos entes inacabados.
O teu recado nunca chegou até mim
Não vou esperar mais, tenho ganas de viver.
O meu jornal madrugou verde! Não me incomodou muito. Já me vou habituando a quem vende a alma ao diabo. E então o sr . director! O que verdadeiramente me irritou, foi não encontrar o meu velho amigo Calvin no lugar do costume!
Só não o devolvi ao sr . arquitecto porque nele constava um interessantíssimo artigo de Pacheco Pereira sobre privacidades, jornais de referência e tablóides. Este não vende a alma a ninguém... aliás como o Calvin .
Parece-me que o "Público" está a mudar e qualquer dia terá também de mudar de nome. Que tal "Privado"? aproveite sr director! Já que está em ciclo de mudanças...
Estão ebriamente nus.
Fossilizados,
Desertos de saudade,
Repelem o meu corpo
Às sombras sem música
Onde maximalizo os sentidos
Forçosamente doridos.
Sentado na escuridão adormeço,
Os anjos calados,
Os pecados que não conheço.
Acuso-me
E recuso-me.
Aceito.
Desprezo-me
E acordo.
Rejeito.
Os noivos casaram-na.
Foi a noite a culpada
Dos mochos dizerem a verdade.
O dinheiro é sempre como a acupunctura,
mete-se no bolso, alivia.
E os bilhetes de Sábado?
Não, a solidão não vai ao teatro,
Junta-se a outras amigas e comem...
Comem corpos.
E ainda bem, querida senhora!
Fomos todos a Sintra e pimba
A cultura viu-nos.
Chegou ao fim o blivro Transeuntes. Pelos sapos-tristes , puderam ver como o fim foi doloroso. Depressão pós- ..? May be . Como o fim é sempre um novo princípio, anuncio-vos, como prometido, o segundo blivro da tríade anunciada: "Partículas"! assim se chamará a nova aventura a iniciar brevemente. Agora as palavras serão servidas sob a forma de poemas. Boa viagem!
É triste a impossibilidade de regressar. Regressar a um lugar onde as coisas se ligavam logicamente, formando um corpo coeso e inteligível.
As ruas arrefecem do longo dia de Verão, é , no entanto, discutível se eu o sinto, porque não há pássaros acordados na noite.
A cidade define-se por ter bares abertos às cinco da manhã. Não os encontro e talvez não esteja nela. Ou então, maldosamente, fecharam para me impossibilitar o contacto com os outros.
Sinto-me observado quando dobro as esquinas sujas da minha mente. É uma sensação agradável, mas portadora de angústia. Angústia porque sei que nada me pode observar como sou e, muito menos, às cinco da manhã de uma madrugada sem Lua. Há um universo de coisas desconexas entre mim e o que pretendo dizer. Um não acabar de estímulos irreversíveis que nunca vou voltar a lembrar: aliás a memória é um instrumento ao serviço do passado e eu sou um deserto sem vegetação primitiva.
No cais alguns barcos descansam, sentem arrepios só de pensar nos anos que o mar lhes vai dar de novo.
Algumas carcaças, como eu, sonham com a morte, enquanto se tentam roçar nos ventos húmidos da maresia. Descrever a beleza é uma tarefa vã. Só os loucos a tentam. É voltar atrás para desnudar o futuro. A transgressão dos tabus é um enorme fascínio, a que sempre se resiste enquanto somos homens livres. Os tabus algemam a vontade à sua violação.
Começa a levantar-se a luz da madrugada - as cinco horas já vão - e as coisas começam a tornar-se feias. Até talvez os pássaros não gostem da madrugada, e o seu cantar seja o repudio pelo renascer de uma morte , que é o sono.
A angústia apodera-se das minhas forças já frágeis de ousar desafiar a natureza. Os barcos desapareceram para o mar imenso esperando naufragar, a qualquer vaga, nas escuras profundezas do oceano.
Olho em volta e as sombras transformam-se em luzes coloridas, horríveis a meus olhos. Até as mulheres, anjos da noite, se tornam reprováveis formas fluorescentes.
Começa a nascer o dia - de parto normal - e tenho a certeza que não vou encontrar ninguém: a esta hora já os autocarros deviam vaguear pela cidade arrancando as pessoas ao sono. Belisco-me. Não sinto dor e por isso estou seguro que estou acordado. A dor é própria dos eternos sonhadores, convertidos em pus, nas suas camas de luxo.
Viro a mais uma esquina virtual, de onde posso espreitar o despontar dos comedores de ilusões. Ali, onde o tempo age de improviso e confessa ter um filho que não conhece , onde embarcam os marinheiros aflitos, não vi ninguém. Então, qual ribombar de trovões, vindos de não sei de onde, surgem toneladas de carrascos enlatados, atirados do alto da pirâmide.
Respondi-lhes com a coragem possível nos dias de hoje:
- Desculpem mas não podem entrar na minha casa. Na minha casa só entra gente de bem.
Eu sei que às vezes penso que os outros estão a topar as minhas fraquezas, mas isso, sei-o bem, é uma fraqueza da minha parte.
Tinha um ar tão grave quanto se podia imaginar e mesmo assim sorria. Sorria às coisas. Pronto. Tudo se passou como uma brisa contra a tempestade ( aliás previra-o ). Quantos calafrios a atravessar a noite poeirenta. A vida.
Apeteceu-me chorar pedaços de carne. Da minha carne.
Há um mundo a desabar sobre o meu ( que já não chamarei mundo nem terei coragem de apelidar ), com asas grandes a afastar as únicas borboletas que restam do meu amor. Uma auto - estima inútil e nua. Perdi todas as correntes e esqueci todas as portas. Quase todas... ( é próprio dos moribundos agarrar freneticamente um sonho esfaqueado )
O céu fundia-se como o ribombar dos trovões na mente dos aflitos. Multidões de gritos, como abutres, esperam o cair da noite. À noite as flores entregam-se a si. À noite ninguém assassina flores.
Não existem recordações de infância onde os sentimentos flutuam em convulsões febris. A minha dor não tem memória, mesmo não podendo imaginar dores sem memória, por isso é irreversível, sem origem. Como a noite que cai...
Nas asas do sono brincam sorrisos rodopiando eternamente ao vento.
Há nuvens à esquerda incapazes de me tocar, receando perder a capacidade de estar sós.
Perdão, a noite cai. O Sol, e eu, vamos para o outro lado da penumbra.
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