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Hei, you, gritou o cão. Aquele bonacheirão de cor de pêssego a quem tinha saído o euromilhões.
Do outro lado da rua, a galinha que perdera um olho na guerra olhou-o franzindo o sobrolho.
O que é que se passa?, condescendeu cedendo à simpatia.
Queres fazer-me um broche?, atirou o outro sem constrangimentos.
Não fosse a arrogância com que o perguntas e o desconhecimento que nos separa, e responder-te-ia que com o bico que me dá brilho às faces poderia ser perigoso executar tal desejo. Assim, só poderei, e digo isto com toda a sinceridade, mandar-te tomar no cu.
Dito isto, continuou o seu caminho, bico apontado ao futuro e dois dedos fora dos sapatos.
Foda-se, ganiu o canídeo, já ninguém respeita o dinheiro. E ainda dizem que é o sistema capitalista o principal responsável pela crise. “Tomar no cu”, repetiu baixinho, “tomar no cu”, quem não tem o dito não o devia invocar. A cloaca não dá tesão. Irei gastar o meu pecúlio para outras paragens onde a simpatia me possa dar dividendos. Depois não se queixem da fuga de capitais.
E lá foi, debaixo do céu que o alumiava.
M. Gordo 19/12/13
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