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Já tem nome: últimos. Será o dito.
Continuo a saga pelos caminhos inconclusivos do inferno...
Quando morremos, nunca morremos sós. O nós não existe apenas na nossa alma. Estilhaços da nossa consciência, ou seja lá o isso for, exista ou não infinitude dos tempos, alojam-se nos outros e contaminam existências que vivem as suas próprias espiritualidades. As suas sobrevivências no efémero que transportamos. Cada um percorrendo caminhos autónomos, carregando múltiplas identidades e confrontando condicionalismos diversos, forma-se, constitui-se e constrói-se a partir dos avatares que circulam na proximidade oceânica da vida. Às vezes na contramão do devir. Alguns constituem-se somente da bebedeira dos outros. Essa embriaguez que é percecionada, para lá da realidade, como se a realidade fora. Cada um entende a si mesmo e o que o é possível receber do espaço extrassensorial de diversas maneiras. Inadvertidamente, o fora e o dentro confundem-se e confundem-nos para lá das circunstâncias. O eu múltiplo existe e subsiste fora do ser que o asperge nas palavras dos outros. Fora de mim, de nós, navega, argonauta oculto na penumbra de um plasma iniciático, ecrã onde se projetam e reproduzem as sombras dos sonhos embrionários, paradoxais, um eu desconhecido, arquipélago da consciência deslaçada desejando o todo numinoso. Inatingível. Muitas vezes, a maior parte de mim acontece fora de mim. Na periferia dos companheiros que viajam na perplexidade da planície habitada. É por isso que a morte acarreta uma derrocada em dominó dos que nos acompanham na efémera caminhada. Hoje e ontem e ainda mais para lá de nós. Quem não tem medo da morte não investe na vida. A vida é um embuste para os que se libertam da ameaça da morte. Os que a temem e reverenciam desenvolvem toda uma panóplia de estratagemas, ações e omissões para a ocultarem. Nestes, os artistas são os mais engenhosos mas, recorrentemente, os piores sucedidos. Ocultam a morte como ninguém…
A foto é de um amigo que já partiu. Foi personagem d`"Uma Mulher Disponível" e da minha vida.
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