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Não tem importância, nunca teve,
é uma gramática da pele, irrompe
sempre que as calmarias assentam
na reflexão contemporânea do olhar.
A importância das coisas é, ainda,
o panorama do silêncio para além das paredes,
conversa publicada no obrigatório confluir
das cerejas mordendo a própria língua.
Na tua luz a minha fala não tem
importância, filha da puta zurzindo
as ameixeiras que cada escritor ama.
Regressas à terra onde os gambuzinos te
inspiraram as primeiras, e únicas, palavras,
à terra que apenas existia debaixo
dos teus pés, à terra fragmentada
no imaginário inquieto das traseiras
do teu quarto. Porra! Eras um miúdo
distraído, cantarolaram as velhas
da aldeia atirando as orelhas para
o interior das almas fedendo a antanho.
A trilogia nauseabunda, extirpada
por arqueólogos assassinos que procuram
o mal oculto nos corpos, cega a vida virtuosa,
as pontas soltas dos devir: passado, presente e
futuro numa amálgama coberta de pó. O jogo
completa-se quando se juntam aos arqueólogos
assassinos companheiros vindos das profundezas
dos abismos dedilhando teclas de pianos “au menier”.
Foda-se, disseram em uníssono os escavadores de projetos
adiados: mineiros, autopsiadores, coveiros e poetas.
Escancararam portas para o profundo e iniciaram
uma digressão pelo mundo das sombras, questionando
o velho e o novo que se esvai em ninguém. Em
perguntas estéreis que ecoam nos complexos
jardins de carbono, viajando na infância precária.
Na comédia instrumental que percorre a noite
só os coveiros conseguem resultados tangíveis
e metamórficos: teorias da morte ou deriva das
paixões. A terra que volta a cobrir
o que confundiu a paisagem dos desafinados
caminhantes das sombras, xamanes da putrefação
divina, revela uma única verdade,
só uma, que amontoa escombros nos corpos
intumescidos. Só o poeta engole a última garfada:
o assassino da vida escassa, das asperezas da língua
silenciando o amargo estertor do sonho.
Não tem importância nenhuma, nunca teve.
Amém!
M.G. 10/04/12
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