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Deu-me uma branca e esqueci o meu nome. A mania
que imaginara enquanto enfiava a roupagem
do lobo mau, fez-me detestar as cócegas que os filmes
de polícias e ladrões me presentearam.
Na ginástica, ninguém saltava mais alto que eu, dizia catapultando
o corpo por cima dos automóveis engarrafados.
Deu-se-me uma branca e o queijo que roía, distraído, não
me sabia a nada.
Olá!, atirou-me o anúncio da pepsodent. Gosto
de gajas e a mulher do sorriso branco desafia-me
os instintos que adquiri na selva. Foram baratos
e, por isso, voavam sobre rios e precipícios. Às vezes
era preciso ser campeão de espeleologia para aceitar os convites
da vizinha antes do anoitecer. Mal transpunha a porta
via a loira pepsodent e esquecia-me da vizinha boazona
que me outorgara o convite. Começada a brincadeira
com a outorgante; que não tinha olhos azuis, nem cabelos loiros,
nem sorriso uniformizado; ficávamos tão felizes que os corpos nus
pareciam saídos de um documentário sobre lontras no pacífico sul,
ou de uma telenovela mexicana em tempos de crise.
Grandes tempos aqueles! O que dava pena era ver o marido
e o papagaio a brincar às gaiolinhas enquanto esperavam o jantar.
Queres ir ao circo?, perguntou-me ainda o papagaio antes
da minha saída pela escada de incêndios.
Não, obrigado, e… boa noite senhor doutor.
Pareceu-me entristado, o cumprimentado anfitrião e vizinho
dedicado: o trabalho de doutor devia ser um bocado chato,
concluí, puxando o fecho eclair até acima.
A vizinha atarefada controlava os tachos quentes
na cozinha nublada.
Deu-me uma branca e nem sequer a minha identidade reconheço.
Aliás o que vira na televisão era uma mancha branca
Por entre os lábios da confusão.
MG 19/5/2011
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