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O novo livro do poeta Rui Dias Simão já borbulha, ígneo, nas rotativas do tempo próximo. Poemas do Banco de Trás, assim se nomeará o dito (so?), sairá (saltará) para a luz dos dias nos alvores de 2010. A editora, a de sempre. A que existe para o editar (e celebrar:) Edições Cativa.
Só para vos deixar hiantes de perplexidade, aqui vai um cheirinho daquele que irá ser, seguramente, o grande acontecimento literário nacional do ano que vem.
COMPREI UNS SAPATOS NOVOS
assiduamente à derriça que me envolve
o corpo, este corpo de lama, que sempre
fecha as portas ao silêncio vivo.
Não sei como nem porquê, entrei numa
casa e trouxe uns novos sapatos novos.
Este grito lunissolar que me apaga
os olhos, resmunga nos espaços entreabertos
e moribunda o caminho que adivinharia
a simplicidade interior.
Não sei ainda dizer adeus às flores mortas,
aos rios apagados, às veredas cansadas,
aos labirínticos dizeres das pessoas
Mas existe, existe algum lume
para dizer mais do que esta página
riscada pelo avançar da noite, quase
rosnando para a quimera da falta
dos espaços planetários
Não sei como nem porquê mas
regresso de muito em vez à sombra
dos lugares que me apagam a pele.
Onde estás tu, ó amplexo fantástico
das vozes luminosas - tal qual -
pois não sei como nem porquê mas
já se percebe o estiolamento prematuro
deste animal num fogo diurno
dos seus aparentes dias azuis.
Comprei uns sapatos novos.
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