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Ouço-a. Geme ao longe através do restolho que morde os tornozelos. Vem ao encontro dos dias parados.A minha guitarra conhece os meus dedos perros. Os meus amigos sabem que ela cansou de me consolar. Enquanto os filhos cresciam, adormecia-os nas noites longas de Inverno. Quando as meninges se agitavam nas convulsões da adolescência, encheu o meu coração - os nossos corações - , de orgasmos avulso. Agora jaz encostada à coluna do átrio sem vida. É imensa a solidão do que resta. Das vidas ceifadas precocemente. David Carradine apareceu hoje. Amanhã será o dia de outros que não cabem na vida e adormecem nas inconstantes ondulações do cereal que espera. Que consome o húmus que a penumbra esconde. Os cadáveres antigos não distinguem a carne que ainda palpita, mas não sabe que o futuro resvala sempre que os dias se atropelam nas madrugadas silenciosas, das memórias que rastejam nos milénios que soçobram. Os velhos e os novos divergem apenas na rigidez da podridão que fermenta.
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