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Primeiro dia de Sol no Algarve (o tal das milhares de horas que quase perfazem as horas todas do ano de possibilidade de...). Na quinta isto significa montes de trabalho acumulado nestes dias de chuva e frio.

 

Pôr o tractor a trabalhar para carregar a bateria (não é tarefa fácil tirá-la e levá-la à oficina carregar), podar umas árvores, cortar lenha para a lareira, arejar o armazém, vazar a fossa e o poço roto (sim, aqui no campo não temos os esgotos da cidade), tapar os buracos do caminho e... o mais agradável: dar uma volta de mota para carregar, também, a bateria.

 

Duro duro é cortar e rachar lenha à machadada (não me apeteceu aturar o barulho e as tremideiras da moto-serra). Durante muitos anos a quinta era auto suficiente em lenha para a lareira. E ainda é. Só que já não tenho tempo para a cortar. Agora, já há uns dois anos, telefono ao Sr. Custódio da Fonte do Bispo para me trazer uma tonelada de lenha, antes do mês de Novembro. Homem afável e conversador, é imbatível no preço e, como sou repetente, ainda não me aumentou o preço desde a primeira vez. A dita tonelada não chega para as necessidades que completo com alguma lenha recolhida na quinta. Este ano, demasiado frio e chuvoso, a tonelada já se foi e ainda temos mais 40 dias de lareira pela frente. Teimosamente, resolvi não comprar mais. Por isso tenho que cortá-la, transportá-la para sítio abrigado, até ao fim. Hoje foram duas horas a cortar e rachar. Como via fazer aos cavadores do meu avô, na minha meninice, cuspo nas mão e... pimba. Nunca soube se é para agarrar melhor o cabo, se para não maltratar tanto as mãos. Depois de algum tempo de massacre na lenha e nas costas e mãos e a ser açoitado pelo aquilão ( estou a ler a Eneida de Virgílio e aprendo lá esta palavras caras. Aquilão é somente o ... vento do norte) intervalei para dar a tal volta na minha velha e querida Honda. Rumo: Fábrica e Cacela Velha.

Tenho a sorte de viver bem pertinho de uma das mais belas regiões costeira do mundo. A fatia que vem de Faro até à Manta Rota e que se agiganta neste último quilómetro do Levante da Ria Formosa.

Na Fábrica, fumei um cigarro deitado no muro de granito (não sei porquê granito no Algarve mas é bem bonito) que ladeia a ria. Com a pedra irregular massajando as costas e o sol a aquecer o rosto, fui vendo a maré baixar e os conquilheiros avançar para os baixios da ilha. Ao fundo, pareciam astronautas. Os arrastões às costas mimavam  escafandros lunares.

Dali segui para Cacela Velha, o mais belo promontório da costa portuguesa. Espreitei o velho cemitério onde me recolhi perante o túmulo do meu antepassado matador de cobras, dei uma volta pelo povoado, observei o mar e a ria, Espanha e Monte Gordo (onde trabalho para ganhar o pãozinho) e fumei mais um cigarrito. Quando voltei,a  acelerar pela estrada fora, já com um frio de cortar, e guardei a velhinha viatura, já o Sol se escondia por detrás do Cerro de S. Miguel. Óptimo, podia recolher-me a casa, acender a lareira e... finalmente pôr-me a ler o Expresso.

 

Neste tempo todo, os meus filhos não deixaram, por um só momento, o ecrã do computador...

 

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publicado às 22:26


1 comentário

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De Manuel Ramos a 08.02.2009 às 17:10

Grande dia o teu! Fizeste-me alguma inveja.
De comum, só o facto de andar aqui às voltas com a tradução do poeta de Cacela, Ibn Darraj , que não fumava cigarritos.

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