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Marginais do Pensamento

por vítor, em 28.10.08

 

 

Olho atrás da janela. Lá fora o frio e a chuva instalam-se sem pressas. ao fundo talvez o mar.

Agora sim, compreendo o mundo. Se me envolvo; sou cúmplice. Mesmo contra. Se não me arregaço e não avanço; pago cara a ousadia. O mundo cai sobre mim elefantino e cego. Na sobrevivência dos dias, sou sugado para o conforto da sociedade. "O conforto da certezas", como dizia o outro.

O big-brother baralha-se perante transeuntes sem telemóvel. Sem cartão de crédito. Sem escolhas binárias. Se não és, não existes. Se és... também não existes. A parte não pode aspirar ao todo. A paixão é única e não admite a dúvida. Não escolhes, nunca desejarás a alegria sem fumo do elemento. Numa estrutura elementar existes como partícula, como tijolo na parede. E és útil. Eficaz como a serradura das mentes saltimbancas.

Ser ou não ser, a eterna incoerência da solidão. Ser e não ser, a incógnita inaceitável dos iluminados. Iluminados pela essência da vida, sem objectivos e sem valores. Contra os insaciáveis intelectuais à babuja dos sistemas. Seres em órbita do senhor seu centro e razão de persistir. Dos risos apocalípticos, da genoflexão neuronal.

A publicidade das ideias releva a ignorância sensível dos deserdados. A estrada que se estende pelo amplo ardor do desconhecido, rasgando-o, violando-o sem sofreguidão, estabelece o eixo oblíquo da loucura enquanto certidão da plenitude  dos tempos.

Por entre as velhas redes institucionais, nos interstícios ocos da risível gregaridade, viajam marginais do pensamento. Viajam sem danificar os ancestrais pilares da moral. Navegando na cabotagem, cruzando as marcas do mundo conhecido como forma de nunca esquecer os entes queridos. Cavalgando as memórias selvagens da História como forma de espalhar o sexo no futuro.

Alguns rastejam em condições humilhantes, até ao assombroso covil das vacas gordas. A lascívia do poder penetra-lhes a pele luzidia e arrasta-os na eterna luxúria do conhecimento. Afinal a base de tudo: do maniquismo brutal que nos oprime, da sensação irresistível de ser livre, da doce carícia da virtude.

Congratulo-me com a inércia dos antepassados que pairam no silêncio das vozes marginais. A marginalidade de hoje foi o centro de antanho, ao contrário do que pensam os cientistas sociais. A solidão estabelece o caos na modorra dos passos que seguem o inexplicável movimento das sombras.

Olho atrás da janela. Lá fora a chuva e o frio gritam sem cessar.

Amanhã, sem pressas, irei comprar um telemóvel.

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publicado às 21:38

Compreensão versus destruição

por vítor, em 13.08.08

 

Anselm Kiefer

 

Para compreender, destruí-me. Compreender é esquecer de amar. Nada conheço mais ao mesmo tempo falso e significativo que aquele dito de Leonardo da Vinci de que se não pode amar ou odiar uma coisa senão depois de compreendê-la.
A solidão desola-me; a companhia oprime-me. A presença de outra pessoa descaminha-me os pensamentos; sonho a sua presença com uma distracção especial, que toda a minha atenção analítica não consegue definir.

 

Bernardo Soares - Livro do Desassossego

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publicado às 23:08

Sobre as Virtudes

por vítor, em 05.07.07

"... ter uma virtude é bem melhor que ser possuidor de duas..."

 

Nietzsche ,  em Assim falava Zaratustra .

 

Eu, que sou mais optimista que Nietzsche , penso que, mesmo assim, ainda é melhor ter duas virtudes que suportar... três virtudes.

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publicado às 00:38

A loucura num abraço

por vítor, em 14.05.07

No mês de Janeiro de 1889,  em Turim, Nietzsche revoltado com a visão tremenda de um cocheiro a chicotear o seu cavalo, abraça ternamente o animal. O quadrúpede, claro!

 

Enlouquece a seguir a este episódio,  tornando-se num ente vegetal e amorfo até à sua morte no ano de 1900. O ano derradeiro do século XIX.

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publicado às 18:50

A Verdade e a Mentira

por vítor, em 28.03.07
P`rá mentira ser segura
e atingir profundidade
tem que trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.


                            António Aleixo

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publicado às 12:32

Feliz Aniversário Europa

por vítor, em 25.03.07
O "doente incurável" de Nietzsche, faz 50 anos. Vinda da Fenícia nos robustos braços de Zeus, caminha outra vez para oriente. À doença crónica juntar-se-á  a esquizofrenia dos Balcãs e o reflexo em negativo da Anatólia. Aguentará o doente o choque civilizacional? A entropia murmurante borbulhando nos interstícios intranacionais e os colossos político-étnicos exteriores, actuarão como titãs esmagando a frágil coesão?

A guerra é uma constante humana no espaço e no tempo. A Europa extinguiu a guerra no seu seio e uniu inimigos de sempre. É esta, a guerra, a hidra preocupante e ameaçadora. A Paz, ao contrário do que se pensa ,  torna-nos desumanos e a nossa formatação ancestral faz  troar os tambores quando ela  se acomoda aos homens como se sempre, estes , a tivessem vivido e  a guerra não fosse mais do que um distante filme descolorido e estranho. Hoje, no meio das mais rocambolescas guerras virtuais e electrónicas os tambores tornaram-se silenciosos. A guerra já não entoa cânticos tribais, não suja o chão pátrio,  nem usa o folclore do sangue. É límpida como a água, calma como a brisa e avança como metástases na corrente vital. Como na caverna de Platão, a realidade não passa de um conjunto de sombras que nos dão a ver e a conhecer. A liberdade torna-se, assim, inalcançável . Incompreensível e manobrável. As sombras serão condição para a felicidade. Ama as sombras e serás feliz. A sombra não deixa distinguir os traços que dão contornos à liberdade.

Se a Europa durar mais 50 anos, o mundo poderá rasgar as trevas e trazer um pouco de luz ao homem e à natureza. O Mundo será um pouco melhor e o choque de civilizações poderá não passar de um sonho mau do início do século XXI.

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publicado às 23:23

Políticos e Fraldas

por vítor, em 21.03.07
No filme "Homem do Ano" (Man of the World):

Os políticos são como as fraldas. Têm de ser mudados com frequência e pelos mesmos motivos...

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publicado às 23:02

Um Torneio Escada

por vítor, em 17.03.07
Este blogue não serve para falar de coisas pessoais (não confundir com coisas de pessoas). No entanto hoje vou fazer uma excepção e vão ver que valerá a pena.

Há dois anos  comecei a jogar ténis. Tinha jogado até então duas ou três vezes na vida. Influenciado por um  amigo e pelo meu filho mais novo, tenho vindo a jogar 1 vez por semana e , até, (pudera) a evoluir bastante. Acontece que no clube onde jogamos organizaram um "torneio escada" e meteram-me ao barulho. Um torneio escada, vim a saber depois, é uma competição que se arrasta por vários meses e onde os jogadores são seriados num ranking em que os melhores estão nos primeiros lugares e os piores, como é óbvio, nos últimos. Quando fui ver a seriação até fiquei surpreendido, estava a meio da "escada" com uma série de jogadores, que não conhecia, estrangeiros atrás de mim. À minha frente um tal de Jean , holandês. Este tipo de torneio funciona por desafios: um jogador desafia um dos dois jogadores que  lhe está logo acima e, em caso de vitória ocupa-lhe o lugar (sobe na escada) descendo o derrotado ao lugar do vencedor (desce na escada). Durante o torneio, os melhores vão subindo lentamente enquanto os menos bons se vão aproximando do fundo da tabela.

Como me competia, desafiei o jogador que estava mesmo por cima de mim, o tal Jean . O desafio foi aceite e marcado o jogo para hoje, pelas dez horas da manhã.

Também como me competia, tratei de colectar informações sobre o jogador desafiado. O pouco que soube deixou-me tranquilo e confiante: o senhor tinha 69 anos, era canhoto mas uma terrível artrose tinha-o obrigado a passar a jogar com a direita e o seu grande handicap era o serviço. Por outro lado, tinha sido um jogador de top e continuado ligado à modalidade como professor durante toda a vida. Experiência não lhe devia faltar...

Apostado em passar os últimos dias da vida sob o reconfortante sol algarvio, jogava ténis várias vezes por semana e tinha até lições particulares com o professor-mor do clube.

A idade, a história da mudança de mão e a minha "juventude"( menos 20) deram-me, como já disse, confiança e nem dispensei  uma longa e pedestre visita de estudo, com os meus alunos,  pelos meandros da cidade de Tavira, na sexta -feira, que me deixou de rastos.

De uma simpatia desarmante, o senhor Jean despachou-me, em hora e meia, com um inquestionável 2-1: 6-2;  4-6  e 6-2.

Quem me dera jogar ténis e ter a simpatia do sr. Jean aos 70 anos. Bem a simpatia será, certamente mais fácil...

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publicado às 18:24

Duelo à Sombra de um Taxi

por vítor, em 13.03.07
Portas, Paulo Portas, recauchutado , desafiou: directas já! Imperial, sobressaiu do limbo e escolheu a luta mortal.

O outro, sem receios e ufano, respondeu com virilidade. Desafios e luta são o meu pão, a minha vida, o meu destino. O desafio será bem vindo e suspiro pela refrega mas as armas escolho-as eu!

Suspense no plateau e ainda as coisas vão nos preliminares.

As armas serão, batendo no peito, o soberano congresso!

Directas!

Congresso!

Directas!

 Congresso! 
Ficaram horas nisso (alguém disse anos?) e nada. As duas partes anunciaram o imperdível acontecimento. O extraordinááááááário ajuste de contas.

As duas hostes arrastaram-se pesadamente para os locais onde seria, finalmente, decidido o presente e o futuro do país.

Um, ganhou as directas!

Outro ganhou o congresso!

E foram felizes para sempre!

P.S. O país tornou-se à sua imagem e semelhança e entrou num táxi que o levou para a terra dos sempre-em-pé.

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publicado às 22:42

Convite para jantar

por vítor, em 08.03.07

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Sonhos de uma noite de Verão...

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publicado às 23:11


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