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La mort de mamam

por vítor, em 15.03.23

je suis très triste , je pense a vous souvent , plus encore aujourd'hui car une part de mon coeur est brisé.

Luís de Brito

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publicado às 15:51


Ali era a casa da tua bisavó. Aquela de riscas azuis e caiada de branco.



Esta tua bisavó, que ali vivia, tinha três filhas: lindas e cobiçadas.

Eram três as irmãs: a Belinda, a mais velha; a Amélia,

A tua bisavó; e a Josefina. A Josefina tinha

Menos dezoitos anos do que a Amélia, que tinha

menos um que a Belinda. A tua bisavó Amélia era a mãe da tua avó Amélia que era

Mãe do teu pai. A tua avó Amélia foi a pessoa

Que o teu pai mais amou: um amor que tudo superava (e eu amuado).

Foi nesta casa que eu conheci o teu pai para o passar a amar

Até ao final dos tempos. A tua bisavó Amélia era minha prima.

Prima segunda. Primeira, era do meu pai. O teu avô João de Deus.

Que no teu assento de nascimento, na conservatória, está como João de Jesus.

(tenho que lá ir mudar o erro – diz-me a minha mãe desde

que a conheço e eu sei, sempre soube, nunca irá)

Quer isto dizer, e tu sabe-lo bem, que o teu pai era meu primo:

Meu primo segundo colateral. A tua bisavó Amélia que

Era minha prima segunda, via o meu pai, que era seu primo, como mais um irmão.

Ou seja, os meus bisavós paternos eram os mesmos que os bisavós

Maternos do teu pai. A esta casa vim, com a minha prima Célia, visitar a nossa prima

A mando do meu pai que era muito dado ao culto da família.

Viemos de bicicleta desde Santa Rita até às Cabanas. E o teu pai estava de visita à avó.

Afogueada com a longa viagem a pedalar, e com a visão de tal criatura,

perdi, definitivamente, o fôlego. Para sempre!

Depois, ele escreveu-me uma carta e…foi o que se sabe. Tenho a carta guardada

Para ta deixar. Não sei se a tinta do tempo ta deixará entender.

A tua bisavó Amélia, que já era velha por essa altura, era muito engraçada e bondosa.

Estava sempre a queixar-se da perna. Não sei se era só de uma delas,

das duas ou de uma e de outra, alternadamente. E nós, os jovens ríamo-nos a bom rir.

Ela… ria-se também: “Ai a minha perna, ai a minha perna que não me deixa fazer nada!”

As três irmãs eram muito diferentes: a Belinda muito séria e complicada, a Amélia alegre

E bondosa, a Josefina, que tinha menos dezoito aos do que as outras,

mentirosa e infantil. Vá lá que casou com o Ti Evaristo

Que era um bom homem. Foi a irmã Amélia que a amparou nos muitos momentos de aflição.

Dava-lhe dinheiro para ir à praça comprar carne para as duas ao talho do Sr. Feijão,

um bom amigo dos teus avós, e ela ficava a dever e com o dinheiro. Um dia, o Sr. Feijão,

envergonhado, lá contou à tua avó o que se passava. Acho que foi nesse dia que houve a

grande cheia em Tavira. A de 1968. Nesse dia, talvez por causa da arrelia com a carne, a tua

avó caiu na casa do teu tio Joaquim e tiveram que ir os bombeiros de barco buscá-la. O teu tio

morava mesmo nas margens do Rio Séqua. Ninguém sabia onde começava e acabava o rio.

Passavam garrafas de gás. Porcos, galinhas, laranjas e, há quem diga, e jure a pés

Juntos, que vira passar, a esbracejar, homens e mulheres. Até, asseguram, algumas vacas

tristes com a sua sorte. As coisas até correram bem e, chegados a margem segura, lá foi a tua

avó até ao hospital. Era só um braço partido e, depois de bem engessada pelo Dr. Jorge

Correia, ainda apanhou camioneta da carreira para Vila Real e visitou, antes de eu a levar no

Velho Anglia IA-32-12 à fazenda da Cativa, o filho Fernando, como o fazia todas as quintas.

Esses eram dias felizes para o teu irmão e para ti: nunca faltavam

as tabletes Regina compradas na venda do Velho João. O teu pai era o seu menino querido.

Foi-o sempre até ao esquecimento. E, embora o teu nome tivesse sido o último que a sua boca

Pronunciou, foi o seu Fernando o amor da sua vida. O menino teve uma trágica paralisia

Infantil e, a partir dali, viveram um em função do outro. Um para o outro! (só por isso eu

Compreendia essa preferência pela mãe. Compreendia, mas não aceitava. Mesmo depois de

Me ter arrepiado e ter sofrido com o seu choro descontrolado na sua morte…)

A última vez que a tua avó Adelina me bateu, e foram bofetadas cruéis, foi por causa de uma

Tia minha. Dizia ela que o meu namorado não era o melhor para mim. Que nunca me

daria segurança e sustento com o problema da perna. Nem que o tenha que transportar às

costas o resto da minha vida, respondi-lhe eu de forma agreste. A tua avó esbofeteou-me por

causa desta raiva libertada. Foi a última vez. E a primeira. Mas deixou-me casar com o teu pai.

O meu pai morreu dentro da nora que regava a horta. Quando foi pôr o motor

A trabalhar no fundo da garganta vertical. Na plataforma de cimento sobre as águas.

Tinha-o feito centenas de vezes. Neste dia, os fumos subiram mais depressa do que ele pela

escada de corda de aço. Pelo túnel de luz e escuridão.

Caiu inanimado sobre a plataforma de cimento. Se tivesse caído na água talvez tivesse

acordado e sobrevivido. Quando telefonei para a escola para te comunicar e mandar vir para

casa, foi o senhor Coito, o chefe dos contínuos, que me atendeu o telefone. Estavas a dar saltos mortais, vê bem a

ironia, na caixa de areia, por debaixo do depósito da água. No velório choraste

convulsivamente quando te mandei beijar o teu avô para o deixar ir. As velhas consoladas com

o menino sofredor. Disseste-me, mais tarde, que só tinhas chorado porque te obriguei a beijar

um cadáver. E que ainda hoje sentes o frio da sua careca nos lábios.

Nunca conheci o meu pai com cabelo. Como sabes, tive três irmãos que morreram

precocemente. A minha família foi destroçada pela morte:

um maninho tinha apenas uma semana e eu fui avisar o meu pai, o seu pai, o teu avô, o primo

do teu pai, a quem mudaram o apelido no papel, atravessando

Barrocais e arrifes até onde o mestre Deus construía uma casa. Voltámos a casa tão tristes

Como se fôssemos fantasmas no paraíso da loucura… por barrocais e arrifes. Depois, o meu

Irmão mais velho deixou-nos quando veio da tropa e a minha irmã foi-se para lá do tudo e do

Nada e deixou-nos a pequenita, que se fez grande e mulher, a tua prima Antonieta. Foi a tua

avó Adelina e eu que a criámos. A menina tinha uma sombrinha, que a acompanhava para

todo o lado e que só ela via. Existia só para ela. As pessoas abanavam a cabeça com tristeza (eu, que

cheguei muito mais tarde, adorava a sombrinha e até a usava, às escondidas, quando chovia)

Nunca pensei que chegaria a esta idade. Sempre imaginei que também soçobraria à vida cedo,

sem te vir a conhecer. Talvez por isso, terei lutado tanto pela família. Quando casei, não tinha

um tostão. Tirando alguns presentes práticos, a minha tia, a tia que nunca gostou de mim,

e por isso não a nomeio, deu-me um garnisé e uma jarra – e o garnisé, nessa mesma noite, a

noite de núpcias, desvairado com a mudança, voou contra o pechisbeque e atirou-o ao chão.

Em cacos. Fui pedir dois escudos à minha mãe. Que não tinha. Em cacos! Prometi nunca mais pedir dinheiro a ninguém. E cumpri. Até hoje.

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publicado às 17:08

80 anos da nossa vida

por vítor, em 23.01.13

 

A minha adorada mãe fez no dia 13 de Janeiro 80 anos. Em grande forma, parte para mais uma década de vida intensa e com imensos projetos para cumprir.
Aqui vai um dos seus poemas:

Não me perguntes quem sou
não te poderei dizer agora
sou um corpo sem alma
que a vida deitou fora...
Maré cheia e calma
num vaivem constante
murmúrios do mar
que o vento conhece
e os ouve distante,
sou sombra ao luar!
que de amor padece serei tudo e nada!
lamento ou tristeza...
grito de alvorada não tenho a certeza!
Não me perguntes quem sou,
não me conheço
no universo onde estou
e onde pertenço.

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publicado às 23:09

BOAS FESTAS E BOM ANO NOVO

por vítor, em 26.12.10

Hoje, para vos desejar BOAS FESTAS e um belíssimo ANO NOVO, vou deixar-vos um poema da minha mãe. Sim, a minha mãe Rita é poetisa com obra publicada, com prémios vários e carreira consistente, aqui para o Sul. Não tenho distância suficiente para apreciar a sua poesia, embora me pareça distante. Mas, também, o que é que isso interessa? Eu, até, em regra, não gosto de poesia.

E, já que estamos de sentimentos à flor da pele, convidemos o meu pai para as festas.

 

 

 

segui sem rumo pela estrada da vida

caminhei a seu lado em curvas tortuosas

pisei as pedras que me olharam vencida

e voltei atrás em passadas vagarosas.

 

devagar retornei ao ponto de partida

já cansada dos sonhos de caminhante

como utopia na luta já perdida

da vida já vivida e tão distante.

 

vencida olhei os céus do meu destino

como afago as estrelas me mostram

na torre da igreja aquele sino

aonde as horas da vida me marcaram.

 

parada fiquei na beira da estrada

não segui para diante o desconhecido

da minha alma saiu rouca gargalhada

do meu peito o grito há tanto reprimido.

 

 

Maria Rita Baptista - Sonhar Poesia -2001

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publicado às 17:39

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publicado às 00:28

Estava Frio na Tarde Poeirenta

por vítor, em 28.07.09

Estava frio na tarde poeirenta. Agarrou os sapatos e entrou descalço no cemitério. Algumas beatas místicas adoravam os seus mortos ruminando palavras silenciosas. Percorreu o corredor central e chegou-se à sepultura de uma mulher de óculos escuros sem lágrimas. Pousou os sapatos. Olhou as árvores repletas de caracóis e começou a assoviar baixinho. As beatas ruminavam a líbido esperando compaixão das almas inertes.

Passara um ano sobre a morte da mulher de óculos escuros sem lágrimas. Era a sua primeira visita.

O Outono descia as persianas. O Universo rodopiava, sem pressas, em volta do cemitério.

Subiu a colina suave da sepultura e sentiu os pés descalços a enterrarem-se na terra. À procura da raiz.

Há anos, quando repousava no seu regaço, sentia as mãos tremer de gozo. Lembrou-se das galochas que sempre quisera ter e nunca teve e que os rapazes da rua sempre tiveram.

Olhou o céu à procura de encontrar Deus a sorrir. Não existe. As beatas consumiram-No . Existe. Só existe o que se pode consumir.

Sentiu as mãos tremer de gozo. Os pés terrados .

Bruxas no sabat sem fim aproximaram-se do cemitério. Pensou nos mortos ricos e nos mortos pobres, que foram vivos pobres e vivos ricos. A loucura passa pela maior das normalidades quando tem um espaço onde se projecta. Só quando o pano de fundo desce, a loucura cai à rua: é doido varrido, vê pulgas na opa de sua majestade, quer saudar o infinito, satisfaz-se no vazio. A mais grave.

As viúvas místicas atingem orgasmos na penumbra das sepulturas.

Os espaços sagrados aparecem quando os seres do Além se fundem aos do Aquém e aqui começa o sabat. Fantasmas e vice-versa, num só, debatem os mais prementes problemas da Filosofia contemporânea.

Mãe, por que me abandonas-te? Acaricia-me os pés. Faz-me tremer as mãos. Vamos construir um mundo porreiro sem carimbos na consciência.

Parecia que o tempo não passara mas o Sol caíra atrás da parede do cemitério e como era preciso atravessar o ritual da morte para participar no sabat, o coveiro, homem devidamente encartado para tal, expulsou as almas do outro mundo para o outro mundo.

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publicado às 00:24

 

No dia 25 de Abril, pela manhã, fui ao lançamento de uma primeira pedra.Não uma primeira pedra no sentido bíblico. A de um lar para a "terceira idade". Foi a minha primeira pedra. Pedra pedra, bem entendido.

O acto em mim atraía-me tanto quanto um concerto do António Carreira. Foi a fragilidade da minha mãe ( na tal 3ª idade e dinamizadora do projecto) que me arrancou do generoso leito e me arrastou até ao terreiro onde irá ser implantado o "equipamento social". O evento não contou com a cumplicidade do tempo que se apresentou frio e ventoso. Uma nortada cortante e impiedosa  que fustigava os que se apresentavam para presenciar o piedoso acontecimento. Cheguei bastante cedo que a minha mãe estava ansiosa. Embora tenhamos combinado de véspera, já me tinha telefonado temendo a minha crónica irresponsabilidade. Apresentou-se-me de traje de cerimónia com broche e tudo. Eu, como já se calculava, de gangas e casaco de cabedal coçado.. Uns ténis de um dos meus filhos, deslavados e gastos (pareceram até à minha mãe rotos).A senhora não gosta mas já entranhou. E a companhia bastava-lhe. Gozou-a até aos limites da sua tensão arterial, cronicamente já alta. Chegámos ao terreiro poeirento e desolado e já por lá andavam, cabelo ao vento (ralos e esparsos) muitos dos futuros utentes do lar. Trajes de festa, uns aguardando as individualidades, outros dedicados à logística dos comes e bebes pós-discursos, lutando contra o vento que ameaçava arrastar para fora das mesas os mimosos pastéis de bacalhau e outras iguarias apetitosas.

Ai como o menino está tão novo. Está mesmo igualzinho a Sr.. Fernando. Ainda há pouco, estou mesmo a vê-los, andava na brincadeira como mê Zé no ribeiro que pareciam uns patinhos todos enlameados... e a minha mãe babada. A minha gente. Tenho-os no coração sempre e para sempre.

Começam a chegar as individualidades: o presidente da junta, o da câmara e, ano de eleições obriga, os novos candidatos ao município: o delfim do actual ( o que detém o cargo concorre à câmara da capital) e o pretendente da oposição. O padre da freguesia, o presidente da Casa do Povo, os presidentes das freguesias vizinhas e, o mais eloquente e nervoso, o presidente da associação que vai lançar a obra.

Chegam alguns amigos da minha idade. Poucos que na noite anterior houve baile na Casa do Povo e a tertúlia foi longa.

A minha mãe já está na primeira fila em redor do local onde há-de ser colocada a primeira pedra. Numa terra pequena e num município pouco populoso, toda a gente se conhece. As individualidades são todas minhas amigas ou conhecidas. Cruzámo-nos na escola, no futebol ou, pura e simplesmente, encalhámos frequentemente nos caminhos estreitos da paisagem envolvente.

A minha mãe delira com tão íntima relação. Fatos azuis contra ténis "dread", mas ela já nem repara.

Dentro de um cilindro é colocada uma carta com os nomes dos envolvidos mais relevantes no longo processo que vem da ideia até ao presente momento. Carta da memória aos vindouros que um dia abrirão a missiva e honrarão os de antanho.

O padre, tão magro que o vento quase o leva, benze a pedra com o aspersor sagrado. Diz umas coisas sobre as obras dos homens e as obras de Deus. Aproximo-me para ouvi-lo. Foi meu professor de História há 35 anos e quero relembrar essa histórica voz. Desilusão. Já não é a mesma voz. Ou os meus ouvidos já não são os mesmos? No entanto fiquei a saber (que vergonha tão tarde) que benzer é dizer bem. Disse-o o padre. Nunca tinha pensado nisso.

Vai agora pegar na palavra, iniciando as hostilidades, o director da segurança social do Algarve e candidato à câmara pelo partido da oposição. De improviso vai fazendo a cronologia do apoio prestado e, timidamente, faz crer que esse apoio foi "mais relevante" para o bom desenvolvimento que o apoio da câmara. O actual detentor do cargo, dinossauro da política que se alavanca a outro concelho mais "valeroso", regista e sorri. Já vamos ver porque sorri. Não é ele que vai ripostar ao orador inicial. É um homem desinteressado... É a sua vice presidente (e candidata reincidente) que está frente à pedra. Discurso escrito (brincas, não...). As palavras saem duras e o vento açoita com elas o candidato da oposição. Novo nestas contendas, lá vai encaixando como pode. Com dignidade, registe-se. O dinossauro sorri... desinteressado.

Finalmente, momento há muito aguardado, que as barrigas também têm as suas razões que a razão não desconhece, o discurso do presidente da instituiçaõ de solidariedade social que ali se materializa. Individualidade exterior  às contendas políticas hodiernas (por ora), balbuciou umas palavras de circunstância  a que pouca gente ligou (excepto a minha mãe que foi a principal responsável pela ascensão do orador à presidência, pareceu-me mesmo ver-lhe assomar uma lágrima no canto do olho). Não fora ter-se esquecido do presidente da junta na elencação das personalidades que contribuíram para o sucesso da empreitada e ninguém teria registado qualquer parte do discurso.

Todas as individualidades pegaram, à vez,  na colher de pedreiro e afagaram e acariciaram o cimento que colava a primeira pedra à eternidade. Confesso que temi que na vez do meu irmão, uma das individualidades presentes - porventura a mais importante a seguir à minha mãe - as calças se descosessem durante o acto de se baixar para afagar a pedra. De resto, com o seu fato azul escuro às riscas e de cravo vermelho ao peito ( a única individualidade com tal símbolo ao vento) encheu-me de vaidade e orgulho. Quando a mole humana (fosga-se que isto é que é falar. Influência dos distintos oradores?) se trasladou para as mesas convidativas e abandonou a primeira pedra à sua sorte, achei por bem retirar-me. A política é linda. É uma ficção encenada com emoção e empenho  onde os actores representam o melhor que sabem e podem. 

  Deixei a minha mãe a cargo do meu irmão e desloquei-me para o almoço tradicional do 25 de Abril com os meus camaradas. Daqui a nadinha estaremos a entoar  amanhãs que cantam e a querer cumprir o 4º e o 5º mês...

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publicado às 22:44

Telefona-me mãe

por vítor, em 16.03.08
Ainda não sei bem porque não hiberno nestas noites tristes de Inverno
olho para a televisão e estou numa loja de gravatas fúteis
tenho nas mãos vazias várias facas
para cada cinismo
para cada face engraxada
na banalidade das carcomidas
palavras carcomidas

Telefona-me mãe!

Fala-me das alfaces das couves
fala-me do ritmo lunar dos pintainhos
das oliveiras por apanhar
da roda verde dos caracóis e dos netos
a perseguirem o gato preto
pois já não há papoilas para brincar ao sol das flores.

Telefona-me mãe!

Atirei um galo de barro ao ecrã ruidoso da porra (puta ) da televisão
Acertei numa Fátima qualquer (há sempre uma Fátima qualquer a azucrinar-nos a carola)
Mas de qualquer forma

Telefona-me mãe!


(poema do meu amigo, o poeta e artista plástico de Conceição/Cabanas, Rui Dias Simão)

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publicado às 10:48


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