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O final do meu "novo" livro "Exilados"...
O homem que agora era aspirava ao que nunca
seria alcançável e por isso fugia da felicidade.
De uma mulher que percorria a cidade cavalgando
na leve montada da loucura, levava apenas a
saudade. A saudade que também reclamava da
vida de outrora. Uma vida aos supetões pela inútil
irrealidade. Pelos risíveis caminhos do sonho.
Nós que dispomos da narrativa ao sabor
do vento. Que criamos o possível a partir do
impossível e revelamos apenas o que viabiliza
o discurso. Que sujeitamos palavras e encadeamentos
sintáticos, tão válidos como outros
quaisquer, dominamos apenas o que aconteceu
e está a acontecer: o passado e o presente. Na
ficção não há devir nem futuro. Por muito pensamento
que preceda a pena, é esta que conduz
o tempo e a ação. Dito isto, direi, passe a redundância,
para terminar a presente, que já vai longa;
sempre a pena a conduzir o inconsciente; que
o novo e nosso homem repousa agora o corpo
metamorfizado num banco de comboio, atravessando
a paisagem a uma velocidade estonteante.
Comprou bilhete para o primeiro comboio a demandar
a estação central. É um clássico: viagem
sem destino para fugir ao destino. Deixa para trás
tudo o que o tempo havia impregnado no seu ser.
Agora, tabula rasa, será um homem à procura de
eternidade.
As paisagens desfilam, indefinidas, como
fotogramas analógicos montados ao acaso, no seu
olhar perdido. Sim agora compreendia a infinita
discussão dos homens sobre o sexo dos anjos.
Uma alegoria sobre a condição humana...
às vezes aparecem na cidade
figuras recortadas na paisagem brusca
retirando da luz a sombra que cresce
na calçada pardacenta
um homem senta-se numa cadeira
azul e o vento fustiga-lhe o rosto
(quantas vezes já o dissera) imaterial
são três horas na tarde e o crepúsculo
assoma-se por detrás da noite
uma mulher, que o sopro da ventania
não incomoda, observa o que as horas
aspergem no desassossego dos sentimentos
criptados, na voragem das palavras cruéis
atravessando a calmaria que a envolve
aproxima-se da cadeira azul enquanto
o relógio da torre açoita o ar diverso
debruça-se, suavemente, sobre a cadeira
e beija o cabelo revolto do homem sentado
o relógio repete a linguagem do tempo
três vezes na cidade engolida pela sombra
as árvores despem-se para enfrentar o frio
o beijo atira o homem até aos confins de si mesmo,
até onde a solidão desaparece e o mar morno
contorna o emergir das palavras
a mulher reergue-se do beijo
e desloca-se imparável para o fim da rua
onde a espera a eternidade
a noite cobriu de trevas a cidade
e o homem renasce na esplanada
de cadeiras azuis, bebendo cerveja
com figuras que convergem no
esquecimento da dor
o caminho divergente acontece
quando as rédeas do afecto
não resistem ao que materializa a solidão
contra a tempestade ergues a dor.
MG 20/12/2010
Quando sabia tudo e toda a gente o admirava, quando era belo e caminhava sempre num palco iluminado, quando usava as mais belas palavras e era ouvido por discípulos hipnotizados, quando irradiava sensualidade e as mulheres o seguiam como um planeta a sua estrela, quando, quando, quando (...) era um pateta contentinho.
Quando descobriu que tudo isso não passava duma ilusão e que era como um qualquer outro, tornou-se um homem triste. Triste mas sábio como uma espiga na seara ondulante.
Por volta de 240 a C, Eratóstenes, director da Biblioteca de Alexandria, encontrou nuns velhos rolos de papiro a informação de que na cidade de Siena (hoje Assuão), no solstício de Verão ( o dia mais longo do ano), ao meio-dia, o Sol reflectia-se nas águas de um fundo poço. Querendo isto dizer que estava a prumo, nada tinha sombra nesse momento. Sabendo que as colunas de Alexandria, à mesma hora, do mesmo dia, projectavam sombra, concluiu que a Terra não poderia ser redonda.
No ano seguinte, com o uso de uma alta estaca espetada na vertical, mediu o ângulo das sombras em Alexandria e obteve o valor de 7 graus e 12 minutos, ou seja 1/50 dos 360 de uma circunferência. (em Siena o Sol estava a 90 graus sobre a superfície da Terra)
Concluiu, portanto, que o meridiano deveria ter 50 vezes a distância entre AleXandria e Siena.
Para medir a distância entre as duas cidades , Eratóstenes organizou uma equipa de instrutores com camelos e escravos que a pé seguiram em linha recta, percorrendo desertos, montes e vales, tendo que, inclusive, atravessar o rio Nilo. A distância encontrada foi de 5.000 estádios. Assim, multiplicando 5.000 estádios por 50, concluiu que o perímetro da circunferência máxima da Terra deveria ser de 250.000 estádios. Não se sabe ao certo a equivalência entre estádio (usado por Eratóstenes) e metros, pois obras distintas relatam diferentes conversões, mas estudos científicos modernos demonstraram que os 250.000 estádios equivaleriam a 40. 000 quilómetros.
Hoje com computadores, satélites, GPS e outros preciosos instrumentos verificamos que o resultado é muito aproximado. O perímetro da terra no Equador (o maior) é de 40 070 km.
Como vemos há dois mil anos o homem não tinha nada a dever aos que hoje se passeiam pela superfície do planeta azul, bem pelo contrário...
Todos os homens de Creta são mentirosos.
Assinado: Um homem de Creta.
do olhar para dentro da sopa.
A moeda era de ouro.
Parecia um sol.
O olhar do homem deixou de brilhar.
Bebeu apressadamente a sopa
mas engoliu a moeda.
Percebeu ter a sopa dentro do estômago
com a moeda lá dentro .
Foi então buscar a pistola
e disparou contra a sopa.
Acertou na moeda e
viu o ouro transformar-se
num pequeno riacho vermelho.
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