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exilados

por vítor, em 05.11.13

 

O final do meu "novo" livro "Exilados"...

O homem que agora era aspirava ao que nunca
seria alcançável e por isso fugia da felicidade.
De uma mulher que percorria a cidade cavalgando
na leve montada da loucura, levava apenas a
saudade. A saudade que também reclamava da
vida de outrora. Uma vida aos supetões pela inútil
irrealidade. Pelos risíveis caminhos do sonho.
Nós que dispomos da narrativa ao sabor
do vento. Que criamos o possível a partir do
impossível e revelamos apenas o que viabiliza
o discurso. Que sujeitamos palavras e encadeamentos
sintáticos, tão válidos como outros
quaisquer, dominamos apenas o que aconteceu
e está a acontecer: o passado e o presente. Na
ficção não há devir nem futuro. Por muito pensamento
que preceda a pena, é esta que conduz
o tempo e a ação. Dito isto, direi, passe a redundância,
para terminar a presente, que já vai longa;
sempre a pena a conduzir o inconsciente; que
o novo e nosso homem repousa agora o corpo
metamorfizado num banco de comboio, atravessando
a paisagem a uma velocidade estonteante.
Comprou bilhete para o primeiro comboio a demandar
a estação central. É um clássico: viagem
sem destino para fugir ao destino. Deixa para trás
tudo o que o tempo havia impregnado no seu ser.
Agora, tabula rasa, será um homem à procura de
eternidade.
As paisagens desfilam, indefinidas, como
fotogramas analógicos montados ao acaso, no seu
olhar perdido. Sim agora compreendia a infinita
discussão dos homens sobre o sexo dos anjos.


Uma alegoria sobre a condição humana...

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publicado às 23:27

atravessando a calmaria

por vítor, em 25.01.11

 

 

 

às vezes aparecem na cidade

figuras recortadas na paisagem brusca

retirando da luz a sombra que cresce

na calçada pardacenta

 

um homem senta-se numa cadeira

azul e o vento fustiga-lhe o rosto

(quantas vezes já o dissera) imaterial

são três horas na tarde e o crepúsculo

assoma-se por detrás da noite

 

uma mulher, que o sopro da ventania

não incomoda, observa o que as horas

aspergem no desassossego dos sentimentos

criptados, na voragem das palavras cruéis

atravessando a calmaria que a envolve

aproxima-se da cadeira azul enquanto

o relógio da torre açoita o ar diverso

debruça-se, suavemente, sobre a cadeira

e beija o cabelo revolto do homem sentado

 

o relógio repete a linguagem do tempo

três vezes na cidade engolida pela sombra

as árvores despem-se para enfrentar o frio

 

 

o beijo atira o homem até aos confins de si mesmo,

até onde a solidão desaparece e o mar morno

contorna o emergir das palavras

 

a mulher reergue-se do beijo

e desloca-se imparável para o fim da rua

onde a espera a eternidade

 

a noite cobriu de trevas a cidade

e o homem renasce na esplanada

de cadeiras azuis, bebendo cerveja

com figuras que convergem no

esquecimento da dor

 

o caminho divergente acontece

quando as rédeas do afecto

não resistem ao que materializa a solidão

 

contra a tempestade ergues a dor.

 

MG 20/12/2010

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publicado às 19:35

Um pateta contentinho

por vítor, em 22.07.08

 

Quando sabia tudo e toda a gente o admirava, quando era belo e caminhava sempre num palco iluminado, quando usava as mais belas palavras e era ouvido por discípulos hipnotizados, quando irradiava sensualidade e as mulheres o seguiam como um planeta a sua estrela,  quando, quando, quando (...) era um pateta contentinho.

 

Quando descobriu que tudo isso não passava duma ilusão e que era como um qualquer outro, tornou-se um homem triste. Triste mas sábio como uma espiga na seara ondulante.

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publicado às 23:52

Porque hoje é o solstício...

por vítor, em 21.06.08

 

Por volta de 240 a C, Eratóstenes, director da Biblioteca de Alexandria, encontrou nuns velhos rolos de papiro a informação de que na cidade de Siena (hoje Assuão), no solstício de Verão ( o dia mais longo do ano), ao meio-dia,  o Sol reflectia-se nas águas de um fundo poço. Querendo isto dizer que estava a prumo, nada tinha sombra nesse momento. Sabendo que as colunas de Alexandria, à mesma hora, do mesmo dia, projectavam sombra, concluiu que a Terra não poderia ser redonda.

No ano seguinte, com o uso de uma alta estaca espetada na vertical, mediu o ângulo das sombras em Alexandria e obteve o valor de 7 graus e 12 minutos, ou seja 1/50 dos 360 de uma circunferência. (em Siena o Sol estava a 90 graus sobre a superfície da Terra)

Concluiu, portanto, que o meridiano deveria ter 50 vezes a distância entre AleXandria e Siena.

 

Para medir a distância entre as duas cidades , Eratóstenes organizou uma equipa de instrutores com camelos e escravos que a pé seguiram em linha recta, percorrendo desertos, montes e vales,  tendo que, inclusive, atravessar o rio Nilo. A distância encontrada  foi de 5.000 estádios. Assim, multiplicando 5.000 estádios por 50, concluiu que o perímetro da circunferência máxima da Terra deveria ser de 250.000 estádios. Não se sabe ao certo a equivalência entre  estádio (usado por Eratóstenes) e metros, pois obras distintas relatam diferentes conversões,  mas estudos científicos modernos demonstraram que os 250.000 estádios equivaleriam a 40. 000 quilómetros.

Hoje com computadores, satélites, GPS e outros preciosos instrumentos verificamos que o resultado é muito aproximado. O perímetro da terra no Equador (o maior) é de 40 070 km.


Como vemos há dois mil anos o homem não  tinha nada a dever aos que hoje se passeiam pela superfície do planeta azul, bem pelo contrário...

 


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publicado às 15:15

A Confusão da Noite

por vítor, em 04.02.08


Um homem foi às traseiras da sua casa numa noite de bonança e se a cidade fosse no seu quintal teria visto toda a confusão da noite na palma das suas mãos.

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publicado às 00:13

Paradoxo Vital

por vítor, em 31.05.07

Todos os homens de Creta são mentirosos.

Assinado: Um homem de Creta.

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publicado às 23:28

Olhar Exangue*

por vítor, em 30.05.07
                             Um homem deixou cair uma moeda

                            do olhar para dentro da sopa.

                            A moeda era de ouro.

                            Parecia um sol.

 

                            O olhar do homem deixou de brilhar.

                            Bebeu apressadamente a sopa

                            mas engoliu a moeda.

                            Percebeu ter a sopa dentro do estômago

                            com a moeda lá dentro .

                           

                            Foi então buscar a pistola

                            e disparou contra a sopa.

                            Acertou na moeda e

viu o ouro transformar-se

num pequeno riacho vermelho.

 

 

Poema de Rui Dias Simão

*título meu

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publicado às 22:57


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