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As Gargalhadas de Deus

por vítor, em 05.11.20

O filósofo e poeta Luís Serguilha falando-nos dos tempos de hoje e dos tempos dos tempos.

 

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publicado às 15:25

Loucuras

por vítor, em 03.09.19

Quando cheguei, atraquei de mansinho ao porto – há que oferecer a quem nos espera a ternura da beleza – e saltei da embarcação que me conduzira com uma desenvoltura que me surpreendeu: a velhice lentifica tudo, e tudo aproxima da horizontalidade os dias da proximidade ao indizível silêncio que nos espera. Às gaivotas dolentes, lancei o meu olhar humano de superioridade vulgar e continuei ao encontro do nada embrulhando-me nas ruas estreitas e escuras que deixavam as águas do mar para trás. As ruas que me tragaram de imediato como se engole um engodo pensando do próprio isco se tratar. Uma música ricocheteava nas paredes sujas e gastas da cidade que me conduziam os passos. Os passos e a alma. A alma que se limitava há anos a seguir-me como canídeo obediente e fiel. Domesticada, arrastada pelos caminhos que o destino traçara. Destino de que troçara quando o corpo jovem e cruel rompia a vida caminhando nos limiares resvalantes dos abismos. Corpo e alma correndo por entre as labaredas flamejantes em cavalgadas irregulares e insanas. Corpo cavalgando o desejo da carne, alma navegando as alterosas ondas da inquietude existencial. Uma alma estrangeira, desejando o impossível das desassossegadas tentações, ampliando as liberdades de quem quer o infinito. Quando, cansados da longa correria e da solidão dos caminhos divergentes, pararam e se encararam como nunca fora possível, a alma exaurida conformou-se à sua sorte: o conforto do veículo que a acolheria. A segurança do corpo envelhecido.
Um tango antigo soltava-se da porta de uma taberna escondida. Um corvo acorrentado habitava uma tabuleta com o nome do estabelecimento. Loucuras, disse o corvo. Loucuras, a tabuleta. Entrei, invadindo a penumbra quieta do interior do tasco. Subitamente, a minha alma soltou-se de mim e juntou-se ao corvo no alto da tabuleta. Loucuras, era o nome do corvo. Loucuras, foi o que minha alma lhe pediu.

Monte Gordo, 17/1/2019

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publicado às 22:15

espuma evanescente

por vítor, em 20.07.11

 

Quando não falam em ti, apodreces.

Os dias passam e ocultas-te

Na pequenez da solidão que ensombra

As palavras indiferentes.

A quem interessa a estrofe sem leitor,

A porta escancarada na parede esburacada?

Lembra-te do tempo sussurrado,

Indiferente, revolvendo a terra húmida

Onde latejam vermes inconfundíveis

Que fecundam as trevas. Ninguém 

 navega sem conseguir entender as correntes

Que conduzem o devir. Ninguém se

Desconstrói quando o corpo resvala

Na ladeira que se ergue ante ti.

As ladeiras só existem na tua

Cabeça e o que procuras não está

Do outro lado da vida. Está aqui,

Junto às tuas mãos!

A outra margem só existe na penumbra

Do crepúsculo e mesmo assim

 Só a acedes enquanto espuma

Evanescente. Espuma que encanta

Os que nunca se encontraram mesmo

Quando habitam vontades semelhantes

E percorrem veredas paralelas. Quando

Os olhares divergem do que realizas e és,

Da esteira difusa que cobre o passado

A que não podes voltar, reages

Como se a dor fosse uma impossibilidade

De regresso aos campos de restolho onde

O sexo convoca a inocência nas contendas

Do susto e do medo.

A ausência transforma-se num colapso de desejo,

Numa inusitada falência da vontade em

Penetrar o silêncio da realidade sarcástica.

O significado do ato envolve o que rejeita

A perplexidade, apodrece no tempo,

Na perdição que naufraga na escuridão e

Responde ao ego ausente.

Debaixo das nuvens moram os que não sabem saltar

Ao eixo nas noites eternas.

 

MG 14/06/2011

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publicado às 14:56

poemas do banco de trás, na rua

por vítor, em 20.05.10

 

Saiu hoje para a rua. Debruce-se para dentro de nós e entre para o banco de trás. Venha respirar o futuro.

 

 

quando inclino o corpo

 

 

Quando inclino o corpo para a lentidão

redonda dos teus seios, vejo atentamente

que ainda não respiro o futuro.Sabes,

o pólen cai na boca dos que abrem

o silêncio. Sobra talvez uma fuligem em

cada pulso, levanta-se um leve vento,

mas os dias animados sequer encolhem

quando enlouqueces com as tuas baças

unhas amarelas...

 

Não é assim a casa desta manhã quando

os pintassilgos folheiam os cardos, e a cama

é devagar ao lado duma fogueira desmaiada.

As cabeças estremecem um pouco no

regresso do sol das dunas, há um navio

que deambula ainda no corpo, na exígua

memória duma guitarra e outras cordas e peixes.

Sim, alguém se debruça para dentro de nós,

quer sacudir a profunda alegria de sermos

uma realidade com sonho aberto...

 

Todavia temos os castelos que inventámos

após o murmúrio dos pinheiros altos, onde

guardámos as amoras, os medronhos

secos. Bebemos agora a água que resta

doutro vinho, proclamamos a prenhe volição,

a visceral palavra, e embora com uma ramela

a descansar em qualquer labirinto disponível

somos um carrossel de emoções descobrindo

aquilo que pressagiámos durante a vária

areia. Inclinamos o corpo e vemos atentamente

que ainda não respiramos o futuro...

 

Rui Dias Simão, Maio de  2010, edições CATIVA.

 

À venda neste modesto estabelecimento pela módica quantia de 7,5 euros (+ envio).

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publicado às 23:07

imortalidades

por vítor, em 07.04.10

Anselm Kiefer

 

Cago na imortalidade sem corpo.

 

(um filósofo politicamente incorreto)

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publicado às 00:16

fronteira do desejo

por vítor, em 20.10.09

 

Da penumbra do corpo

solta-se um aroma rosáceo

que me envolve os dedos tontos

sussurrando ventos na pele arrepiada

 

Quem não entende as cicatrizes do tempo

passará a fronteira do desejo

resvalando nos socalcos palpitantes

da carne em sangue rumorejando

nas inconfidências do silêncio.

 

As palavras não produzem os efeitos

que projecto nas consciências obliteradas

jazendo em muros

sentadas na planície incompleta

as palavras só rastejam quando a noite

bordeja os caminhos repletos de obstáculos

insaciáveis

onde a chuva de Outono se esvai por entre o sexo

que nunca percorre os meandros

da podridão aconchegante.

 

Agora o nunca torna-se no sonho

utópico da viagem

acorrentando as pernas dos desconhecidos

que se amam

nas grades frias do paradoxo

animalesco dos genitais.

 

Não posso sentir a volúpia da tua intranquilidade

prostrada nos dias sem luz

na ausência que afunda o frágil

fluir da viciante entrega

ao outro.

Não posso dizer o que não existe no mundo

das palavras frouxas e malditas

sons sem espelho onde a vida se esconde e reflecte.

 

 (Monte Gordo, 20/10/2009)

 

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publicado às 23:12

As prepotentes palavras

por vítor, em 11.11.08

 

Luís Feito Lopez

 

Na carne enxuta

um cravo rasga a sedimentação brutal dos sentimentos

revolve as águas na aluvião do desejo amovível

 

Das prepotentes palavras

esquecidas

dos odores intensos da lama

desordenada

da gangrena, dos solavancos da carne,

pingam líquidos que constroem

estalagmites de medo

petrificam os perplexos louvores da memória

o tumor que envolve

amnioticamente a maresia

tornou-se o corpo são onde chapinham as ilusões

incompletas,

sóbrias e descalças

 

Um corpo entumescido

de vibrações inertes que borbulham

ao encontro da eternidade

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publicado às 16:58

Embriaguez Total

por vítor, em 19.10.08

 

Sincronizei a respiração com a tua. Primeiro pelo bafo quente que me varria o peito. Depois, sem conseguir sonhar alto, pelo tenaz ardor do sexo. Sendo a respiração una, os corpos gemem ubíquos e ígneos na calmaria da noite. O atrito das peles suadas electrifica e escalda as mentes esgazeadas. Torna-as caudalosas e indeléveis. Simples e vulneráveis.

Os pés rebolam na cama. Sinto o cotovelo a pairar no ar, oblíquo e sereno. Os cabelos, lianas do amor, aspergem os olhos fechados na procura da liberdade insultada por seres sem pulsões derramadas na urbe.

Lá fora a vida percorre os caminhos do costume. A embriaguez total e permanente envolve as avenidas.

Agora sinto os seios, invulgares, na solidão do corpo. Espraio a reacção das ondas preliminares onde, infantilmente, recolho o suco da mãe ausente. Arrepio-me saber-te no meu lugar. Aonde não há esquecimento nem prazer invertebrado e narciso. Se o eterno confluísse no nosso buraco negro, a vida seria, inacreditavelmente, simples e amorfa: osmótica, sábia e pura.

Nos amolgados lençóis, os dedos soltam-se pelas dobras do linho ancestral. A tua voz começa a sussurrar, rouca e prenhe, ecoando nos lares da vizinhança. Num estrebuchar de medo unimos ainda mais as nossas respirações e deixamos a incorrecção periódica dos dias ultrapassar o desgaste rotineiro da vida aprisionada. Aos solavancos trocamos líquidos inquinados e profanamos a inquietude hierofânica das almas. Lavramos a terra rasa de restolho,  entre virilhas tumulares.

Ao fim da noite, fomos expulsar os espíritos selvagens numa mesa de café.

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publicado às 23:25

Peito a peito

por vítor, em 22.11.07


As suecas são umas mulheres espantosas! Sempre na vanguarda. Agora exigem igualdade de tratamento com os homens no que respeita à exibição de partes do corpo. Se os homens podem frequentar piscinas públicas de tronco nu, então as mulheres também têm o direito de o fazer.

O meu apoio e a minha solidariedade é total! Gostaria ainda de sensibilizar as minhas compatriotas, e já agora, porque não, as mulheres de todo o mundo (ou há globalidade ou comem todas) para colocarem os olhos na luta das mulheres suecas e se juntarem a elas em tão relevante ( palavra muito utilizada por totós ) batalha.

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publicado às 22:37


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