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almas vadias

por vítor, em 07.10.11
Se alguém encontrar por aqui a minha alma vadia, mande-ma de volta...

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publicado às 18:17

Foto gentilmente surripiada a Claudia F.

 

Em Agosto o Algarve torna-se complicado. Não para que os que nos visitam pois esses são os responsáveis pela complicação de que vos falo. São "os agostinhos" epíteto que um meu amigo olhanense lhes aplica porque convergem todos a esta maravilhosa terra em Agosto. Aliás o que acontece em todos os Agostos em todas as terras turísticas do mundo.

Vais comprar o jornal, já acabou. Vais meter o euromilhões, está uma bicha até à rua do fundo. Vais tomar um café, não tens mesa. Vais ao restaurante, esperas 2 horas pela mesa,  duas pelo empregado, duas  pelo conduto e duas horas pela conta. E tudo aos repelões, com caras de caso e com os agostinhos a refilar e amuados com a confusão que eles próprios criam.

 

Hoje para fugir a este estado das coisas fui dar uma voltinha na minha velha Honda. Barrocal e Serra (até para ver como é que isto vai de incêndios), tudo fantástico como sempre. Santa Rita, terra da minha mãe Rita, serena e acolhedora (uma construçãozita aqui e ali esquisitam mas aceita-se). Quando me ia deitar na curva para a Quinta da Cativa um pensamento mau (normalmente bom) invadiu-me a cachimónia: um cigarrinho na Fábrica. Ria e mar com Cacela-a-Velha a espreitar lá do alto. Este, habitualmente bom - pese embora os malefícios do tabaco -, espreitar da ria, constitui um dos melhores divãs para a minha frágil e convulsa mente.

 

Quando cheguei ao cruzamento,  na estrada que leva do Ribeiro do Álamo e Cacela-a-Velha, já os automóveis tomavam conta das duas margens do alcatrão. Quando entrei na estrada da Fábrica, a loucura já era assinalável: carros dos dois lados da estreita via quase impediam a passagem de um carro, os cruzamentos eram manobras dignas dos melhores pilotos de moto trial. Dentro da localidade a loucura era total: nós de tal forma complexos impediam a maior parte dos carros de prosseguir o caminho que os seus ocupantes tinham delineado. À primeira vista pareceu-me que só pelo ar ou pelo mar. Com a minha velha e dedicada mota, lá fui furando como pude entre aquela amálgama de lata e plástico e pus-me dali pra fora rapidamente e doente com a alucinante experiência  vivida.

 

Como é possível que tanta gente se sujeite a tanta dor para ir e vir "descontrair" até à praia. A praia da Fábrica, garanto-vos é uma coisa do outro mundo. Mas o querer não pode constituir nunca a morte do querido e do ...querendo.

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publicado às 17:47

Sardinhas Orientais

por vítor, em 02.04.09

 

Ah, tinha-me esquecido! No Mercadinho de Cacela Velha, comprei, para além do livro de Borges (que afinal não foi um negócio assim tão bom...) esta pintura de sardinhas em papel de arroz. O artista parece ter assinado e tudo. Custou-me 5 euros mas valeu a pena. Quem conhecer o artista, que diga qualquer coisa. Pela obra deve ser grande! japonês, chinês, coreano, vietnamita?????

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publicado às 18:51

FICÇÕES

por vítor, em 22.03.09

 

Hoje comprei o livro "Ficções", de Jorge Luís Borges, por cinquenta cêntimos. Foi no Mercadinho em Cacela Velha. Por momentos pensei que fosse algum transeunte,  como eu ,a fazer de dono da tralha semeada pelo chão, a gozar comigo. O livro, edição Livros do Brasil, está em belíssimo estado de conservação e o vendedor, perante a minha incredibilidade, ainda me aconselhou umas partes da obra. Mais borgiano seria difícil ...

 

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publicado às 23:37

 

Primeiro dia de Sol no Algarve (o tal das milhares de horas que quase perfazem as horas todas do ano de possibilidade de...). Na quinta isto significa montes de trabalho acumulado nestes dias de chuva e frio.

 

Pôr o tractor a trabalhar para carregar a bateria (não é tarefa fácil tirá-la e levá-la à oficina carregar), podar umas árvores, cortar lenha para a lareira, arejar o armazém, vazar a fossa e o poço roto (sim, aqui no campo não temos os esgotos da cidade), tapar os buracos do caminho e... o mais agradável: dar uma volta de mota para carregar, também, a bateria.

 

Duro duro é cortar e rachar lenha à machadada (não me apeteceu aturar o barulho e as tremideiras da moto-serra). Durante muitos anos a quinta era auto suficiente em lenha para a lareira. E ainda é. Só que já não tenho tempo para a cortar. Agora, já há uns dois anos, telefono ao Sr. Custódio da Fonte do Bispo para me trazer uma tonelada de lenha, antes do mês de Novembro. Homem afável e conversador, é imbatível no preço e, como sou repetente, ainda não me aumentou o preço desde a primeira vez. A dita tonelada não chega para as necessidades que completo com alguma lenha recolhida na quinta. Este ano, demasiado frio e chuvoso, a tonelada já se foi e ainda temos mais 40 dias de lareira pela frente. Teimosamente, resolvi não comprar mais. Por isso tenho que cortá-la, transportá-la para sítio abrigado, até ao fim. Hoje foram duas horas a cortar e rachar. Como via fazer aos cavadores do meu avô, na minha meninice, cuspo nas mão e... pimba. Nunca soube se é para agarrar melhor o cabo, se para não maltratar tanto as mãos. Depois de algum tempo de massacre na lenha e nas costas e mãos e a ser açoitado pelo aquilão ( estou a ler a Eneida de Virgílio e aprendo lá esta palavras caras. Aquilão é somente o ... vento do norte) intervalei para dar a tal volta na minha velha e querida Honda. Rumo: Fábrica e Cacela Velha.

Tenho a sorte de viver bem pertinho de uma das mais belas regiões costeira do mundo. A fatia que vem de Faro até à Manta Rota e que se agiganta neste último quilómetro do Levante da Ria Formosa.

Na Fábrica, fumei um cigarro deitado no muro de granito (não sei porquê granito no Algarve mas é bem bonito) que ladeia a ria. Com a pedra irregular massajando as costas e o sol a aquecer o rosto, fui vendo a maré baixar e os conquilheiros avançar para os baixios da ilha. Ao fundo, pareciam astronautas. Os arrastões às costas mimavam  escafandros lunares.

Dali segui para Cacela Velha, o mais belo promontório da costa portuguesa. Espreitei o velho cemitério onde me recolhi perante o túmulo do meu antepassado matador de cobras, dei uma volta pelo povoado, observei o mar e a ria, Espanha e Monte Gordo (onde trabalho para ganhar o pãozinho) e fumei mais um cigarrito. Quando voltei,a  acelerar pela estrada fora, já com um frio de cortar, e guardei a velhinha viatura, já o Sol se escondia por detrás do Cerro de S. Miguel. Óptimo, podia recolher-me a casa, acender a lareira e... finalmente pôr-me a ler o Expresso.

 

Neste tempo todo, os meus filhos não deixaram, por um só momento, o ecrã do computador...

 

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publicado às 22:26

Cacela-a-Velha, deuses e demónios

por vítor, em 16.02.08
Cacela Velha é um lugar fantástico. Onde convergiram e convergem epifanias diversas dando a este monte- sobre-a-ria um magnetismo inexcedível . Estou a esta terra profundamente ligado desde os tempos da minha mais tenra meninice. Cacela, embora pertencendo a outra freguesia e a outro concelho, integrava-se na paróquia da Conceição e o padre das duas povoações era, portanto, o mesmo. Desta forma o pároco transportava no seu automóvel (raro naqueles tempos) os jovens da Conceição, onde residia, para o ajudarem na missa e noutros serviços religiosos. Eu, embora não baptizado e filho de ateu militante, lá ia às escondidas: a minha perdição era o repicar dos sinos. Sim porque o toque dos sinos é uma arte semiológica complicadíssima que não vem agora ao caso. Enquanto o padre despachava assuntos do foro clerical e outros..., nós batíamo-nos em jogos de futebol com os "serrenhos" de Vila Nova de Cacela ou calcorreávamos falésias e sapais somente pelo gozo de cabriolar. Brincando às escondidas ou procurando, sei lá, os deuses naquela sua morada.
Também me ligam a esta pérola-sobre-o-mar a "última morada" de muitos familiares como é o caso, entre outros, do mais ilustre: José Gil Cardeira. O "bom filho e esposo, pai e amigo" que jaz no único sepulcro que restou no cemitério velho aquando da abertura do "novo" cemitério.
É por isso que me custa o estado de abandono e de desleixo a que está votada a praça forte que foi conquistada  não pela sua importância estratégica ou política, mas pela sua beleza. Como tão bem o cantou Sophia num dos seu poemas mais de fazer pele de galinha.

Par vos mostrar beleza e desleixo deixo-vos com alguma fotografias recentes por mim registadas.

PS: Para saber mais sobre a vida deste aventureiro que jaz no cemitério velho e do qual corre nas minhas veias o mesmo sangue, consultar o livro "Memórias Escritas" onde, para além de outras histórias sobre a região, meu pai, Fernando Gil Cardeira, conta as mirabolantes estórias deste alentejano de Alvito e da "cobra  grande", que enviou para o seu Alentejo natal e que "depois de morta foi transportada em três carros de bois e o rabo ainda ia arrastando pelo chão".











Monte Gordo ao fundo,


A flamejante Ria Formosa, que aqui começa e aqui acaba...






Não se poderiam esconder fios e antenas?

E agora o desprezo:

Casa Paroquial

Uma casa de taipa ao sabor dos elementos...


O meu parente abandonado e salpicado de cal...



Uma curiosa chaminé Allgarvia ...

Há mais, muito mais mas dói-me trasladá-las para este post

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publicado às 15:31


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