A Câmara Municipal de Tavira, procurando adicionar uns euros às suas receitas próprias, decidiu vender a madeira das bermas da estrada municipal que liga a cidade à simpática povoação de Cachopo.
Eucaliptos ornamentais, de grande porte, que levaram anos e anos a crescer. E no instante que demora uma assinatura adjudicou-se a sua eliminação!
Se eu escrevesse para o «Contra Informação», certamente diria que Tavira está na vanguarda!
Depois dos municípios livres de armas nucleares e dos municípios livres de trangénicos, surgem os municípios livres de eucaliptos. Corta-os sem piedade, sem hesitações, porque a liberdade é difícil de conquistar!
Ou, se escrevesse para o «Gato Fedorento», abordaria o ocorrido de um ponto de vista mais ácido: Tavira tem um movimento vegetariano racista. Não é contra os pretos, nem contra os chinas, é contra os eucaliptos!
Cortem-nos e devolvam-nos à Austrália, ou lá para onde uns senhores doutores e engenheiros dizem que essas horríveis árvores vieram!
Deixando as graçolas idiotas, o que aconteceu na estrada Cachopo-Tavira mostra a enorme e reprovável insensibilidade de uma infeliz decisão autárquica.
A primeira consequência é que a parte intervencionada da estrada ficou feia e inóspita.
A enorme quantidade de eucaliptos de grande porte tornavam a estrada aprazível e convidavam a passeios até Cachopo. O seu desaparecimento incentiva a fugir para outro lado!
O turismo no interior certamente fica grato à Câmara Municipal por este contributo, e os cachopenses até talvez o sintam directamente nas suas carteiras, com as receitas provenientes do turismo que deixam de entrar.
Não é transformando estradas acolhedoras em desconfortáveis que se apoia o turismo no espaço rural, e nem todos os desdobráveis e folhetos que alguém faça agora com o papel produzido a partir das árvores cortadas serão suficientes para colmatar o mal estar que se sente naqueles quilómetros.
Todos sabem, também, que decréscimo de turismo no interior é sinónimo de mais abandono demográfico, envelhecimento e morte...
Outro argumento, que terá sido enunciado pela Câmara Municipal, é o da redução do risco de incêndios florestais. Totalmente errado!
Quem não sabe que nenhum incêndio começa em árvores de enorme porte, mas sim em vegetação rasteira e arbustiva?
Bastava manter limpas as bermas de lixo, ervas, ramos e arbustos. O risco de incêndios seria nulo ou mínimo!
Agora, a partir do próximo Outono, nessas bermas de estrada crescerão ervas, estevas e alguns outros arbustos, aproveitando os espaços abertos.
Essa vegetação, pelas suas dimensões e características, vai ser facilmente combustível e o risco de início ou propagação de incêndios florestais ficou, afinal, agravado.
Muito mais se poderia escrever sobre decréscimo da segurança rodoviária e sobre aumento da instabilidade dos taludes limítrofes à própria estrada.
Enfim, limito-me a desejar que a Câmara Municipal de Tavira se apresse a repôr, na medida do possível, a anterior situação, replantando as bermas com espécies adequadas. Mas, por favor, não escolham acácias, mesmo que se saiba que crescem muito depressa...
Aplique-se o princípio do «poluidor-pagador», ou melhor, do «destruidor-recuperador».
*professor da Universidade do Algarve, especialista em Desertificação, residente em Tavira
10 de Maio de 2007 | 13:21
Nuno Loureiro*