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descansado*

por vítor, em 01.08.10

 

Fui hoje, sob - que mais parecia sobre -, um sol escaldante, "acompanhar" o meu amigo Mané até ao cemitério da Conceição. Há alguns anos que pouco falávamos. No final da adolescência, eu saltei do seu barco, ou melhor, foi ele que saltou do nosso barco, que abandonou a navegação à vista, e enveredou por uma rota que nos trouxe até aqui. Eu vivo e perturbado. Ele defunto e sereno.  O contrário das suas vidas. Ele caminhando à beira do precipício. Gozando o medo dos outros e sua própria vertigem: o suicídio lento e doloroso da embriaguez permanente. Da festa sem fim. Vivia sozinho desde cedo. A morte prematura do pai e a migração da mãe (com a irmã) para a Suíça dava-nos, egoístas, um fantástico covil para as piratarias da juventude. Depois de noites memoráveis pela praia e os bares de Cabanas, recolhíamos a sua casa até a madrugada desembocar no dia. Noites de muita loucura. Noites incontáveis. Eu,e outros, sabendo que a festa não é eterna fomos entrando, aos poucos, na vida séria. O Mané continuou o seu percurso até ao fim.

Fininho, de rabo de cavalo longo, sempre de negro era das figuras mais carismáticas de Cabanas. Sobretudo da noite. Com uma alegria transbordante e um humor inteligente, seco e corrosivo, ninguém lhe ficava indiferente. Não havia visitante da povoação que não o viesse a conhecer. A sua vida intensa e no fio da navalha não o impediram de trabalhar sempre. Como barman (sic), empregado de cozinha, empregado de mesa e outros ofícios ligados ao turismo. Namorador e apreciador da beleza feminina, o amor de uma austríaca (conhecida na noite local), leva-o à Áustria onde vive algum tempo trabalhando em restaurantes. Volta revoltado com vitória da extrema direita. A degradação das bordas do precipício levam-no, cada vez mais, a aproximar-se do fundo. Uma amiga minha tinha-o visto há poucos dias numa cadeira de rodas empurrada pela austríaca. Pensei ir vê-lo à "nossa casa". Tinha medo de o encontra no limbo. Ontem na feira da Conceição, e na noite de baile e cerveja que lhe está associada, soube da notícia. O Mané tinha partido para a terra de onde veio toda a gente e para onde toda a gente vai.

No cemitério, que une os mortos de Cabanas e Conceição, está parte da minha vida. Uns sairam no final da cerimónia. Outros ficaram. O Mané, com uma cerveja numa mão, coloca-me a outra no ombro, contorce-se ligeiramente e solta uma gargalhada que ecoará para sempre nas terras da ria.

 

*Nestas terras do Sotavento, quando alguém refere um falecido, coloca o adjetivo "descansado" antes do nome do referido não vá o dito vir incomodar o referente.

 

PS: Por ironia do destino, quando me meti no carro para ir "acompanhar" o Mané, liguei o rádio e começou a tocar a música que acima inseri. Os Doors acompanharam-nos e acompanham-nos para sempre.

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publicado às 18:03

o tempo que passa na vida parada

por vítor, em 12.04.09

Na madrugada de sexta-feira (3 da manhã?), voava sobre as prenhes e calmas águas da ria, rasgando a noite sob a Lua cheia, depois de ter estado numa festa com 4 000 jovens na Ilha de Tavira. 99,9 % tinham menos de metade da minha idade. O espectáculo é arrepiante.

Um aqua-táxi voando sobre a espuma branca, atravessando a ria numa maré viva e com Lua cheia é uma experiência absolutamente esmagadora.

 

No Sábado, romaria com amigos de infância e adolescência ao estádio José Arcanjo  degustar um Ohanense-Feirense, para a Liga de Honra (sic). Nunca tinha posto os pés no dito estádio. O meu campo de jogos em Olhão era (e será sempre) o mítico Estádio Padinha. e a esse não ia desde 1976 (?) quando o Olhanense desceu à  2º divisão para não mais lá semear paixões.  Jogo muito importante para a subida do Olhanense à primeira divisão (1º classificado contra 3º) fez-nos sofrer até ao fim. 2-1 foi o resultado. Gritámos e assobiámos sem parar, contorcemo-nos, quando o feirense atacava e escancarámos os olhos durante as investidas rubi-negras (penso que até fomos pouco educados para com a equipa de arbitragem e seus familiares próximos) mas valeu a pena: estamos mais perto de ter um clube algarvio nas mais altas esferas do pontapé na bola luso.

Claro está, que à volta, não resistimos aos caracóis do Primo, nos Cavacos, e, depois, às estupidamente geladas imperiais do D. Manuel e aos seus afamados ... tremoços.

 

PS. Nesse mesmo Sábado, Aquele que não ouso pronunciar o nome soçobrava, na Luz, perante os estudantes de Coimbra. É uma agonia insuportável que temos que carregar até ao fim. Ao fim do princípio que é já amanhã.

 

Mais dois dias de vidas que passam.Como todas as outras, inúteis ou úteis. Como todas as outras, estranhas e sem sentido. Dois dias que já soluçam nas revoltas e sombrias torrentes da memória.

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publicado às 01:04

Alfarrobas e adolescência

por vítor, em 01.09.08

 

Nos tempos da apanha da alfarroba pareço mergulhar na adolescência. Só me apetece entrar pelas noites adentro como gato à procura de sonhos já sonhados...

 

PS: Não tenho andado com disposição para grandes escritos. No entanto estou pouco preocupado. Como diria a grande filósofa dos nossos dias, Lili Caneças, não escrever é só o contrário de escrever.

PS1:O meu amigo Pedro Alves vai compensando esta ausência de palavras novas com algumas referências a palavras antigas e projectos novos deste vosso criado. Recomendo-vos vivamente a passagem pelo canal sonora, o belíssimo blog do amigo supra citado.

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publicado às 14:20



Seguindo  Edmund Hillary ( aqui com Tensing ), subi ao Everest, na minha adolescência.

Agora que ele subiu ao tecto do mundo pela última vez, que me desculpe, não vou acompanhá-lo...

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publicado às 00:12



Tenho revivido as minha feiras  de Tavira dos tempos de meninice, agora através dos meus filhos adolescentes. Nos meus tempos a minha avó materna dava-nos "as feiras", qualquer coisa como 5 escudos, e eu rebentava com elas no primeiro dia da feira. Digo dia porque de noite não punha lá os pés. Nem a minha mãe tal autorizaria nem os transportes para a aldeia o permitiam. Só lá para os dezassete anos comecei a ficar pela noite dentro. Nos dias seguintes da feira, com uma cara de funeral, assistia ao divertimento dos outros e invejava-lhes a "riqueza. Sim, que só ricos poderiam gozar três dias seguidos  de carrinhos de choque, aviões, carrosséis e casa  fantasma.

Agora as atracções  são muito mais e mais espectaculares (vistas pelos olhos de hoje) e os tais de 5 escudos nem par uma volta de avião daria. Agora os carrinhos de choque são 2 euros e cinquenta, o Street   Figther 3 e e o Canguru 2.5. Uma verdadeira fortuna. Sempre a rodar e sempre cheios de adolescentes felizes e abastados.

Nestes últimos anos, desde que o mais novo dispensou o pai das aventuras a dois nos óvnis e carrosséis ( meduço oblige ), passo as noites de feira nas roulotes-bar bebendo umas imperiais e petiscando um polvo seco, na companhia de outros desgraçados pais que não vêem chegar a hora combinada com os seus rebentos (renegociada pela noite dentro com propostas irrecusáveis dos ditos) para finalmente aterrarem em vale de lençóis.

De vez  em quando os meninos e meninas passam pelo local do convívio paterno ( situado em palanque  privilegiado  de observação das diversões) como combinado previamente ou para reivindicarem   reforço monetário.

Desta vez o meu mais novo até ousou experimentar o famoso canguru. Uma espécie de carrossel que gira a velocidades proibitivas enquanto dá saltos bruscos para a frente e para trás. Os pares a isso o "obrigaram" que ele não estava muito para aí virado porque a primeira vez num instrumento de tortura como aquele mais se assemelha a certos rituais de passagem  para a condição de homem,  que põem a vida dos  ascendentes ao novo estádio em verdadeiro perigo de extinção. Como eu dizia, os pares, e principalmente as pares, fizeram-no correr tal risco que a um pai põe em estado de desorientação total. Não que não tivesse já assistido ao mesmo folhetim com o mais velho que agora, do alto dos seus dezassete anos, até no Street Figther se aventura, uma espécie de rampa de lançamento de foguetões com a técnica das fundas dos pastores, que faz as adrenalinas dos adolescentes atingir os píncaros da Lua. Mas ver um pré adolescente aterrado no meio de uma parafernália de ferros e luzes às voltas e reviravoltas a 10 metro do solo não é, certamente, nenhum regalo para nenhum pai. A não ser para aqueles que nunca conseguiram ultrapassar essa fase estúpida da vida. Estúpida mas a melhor e a mais bela de todas...
O que é certo é que o rapaz, que fez as duas primeiras corridas lívido e apavorado no meio de duas meninas da turma, tomou o gosto e repetiu enquanto houve dinheiro. Escusado será dizer que o pai, assustado mas orgulhoso, ainda contribuiu com mais algum numa negociação de dinheiro por tempo. Mais x euros menos y tempo na feira. Que sim, disse o rapaz rápido no negócio,  sabendo ambos que uma parte do acordado não seria cumprido.

O que é certo é que o heróico atravessador de rituais me chegou a casa todo amassado, com nódoas negras pelo corpo todo e com uma soneira que nem os dentes conseguiu lavar. Eu também não cheguei melhor. 4 horas sentado numa rollote-bar não dão saúde a ninguém. Aquelas cadeiras deviam ser proibidas pela ASAE . E já agora, e se esta diligente agência fizesse uma avaliação rigorosa ao "cangurus" das muitas feiras deste  país? Talvez se evitassem uns acidentes graves com jovens inconscientes (desculpem-me o  pleonasmo) e se contribuísse em muito para a saúde mental dos progenitores. Perdiam-se obviamente uns  quantos heróis mas isso é o que para aí mais há...

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publicado às 21:56

Blogue à beira de um ataque de nervos.

por vítor, em 01.08.07


Filho adolescente no Festival do Sudoeste. Cinco dias de desassossego.

E não é que o pai foi dos tais que passou pelo mítico Vilar de Mouros? A setecentos quilómetros de casa e, vejam só, sem telemóvel.

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publicado às 14:41


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