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Uma Alface já na Salada

por vítor, em 26.05.06

 

 

 Eu estava ali sentado. Uma mesa redonda sem fim, cheia de beatas de cigarros e de ilusões enlatadas num frasco de açúcar.

  Às vezes entravam melgas gigantes. Traiçoeiras. Vestidas da cor das manhãs sem Sol.

  Pensava nos amigos e nas lágrimas que se desprendem pelos comboios que partem acenando até os olhos se despedaçarem em jardins solitários. Nunca se sabe até onde os amigos podem chegar no nosso bocado de solidão.

  Há ainda os copos de álcool com cintos de cabedal à cintura.

  No outro dia começaram as queimas em louvor dos vossos espíritos. E mais uma vez te perdi.

  Apetece-me encontrar cadáveres sorridentes nas páginas dos livros de pó, a navegar no meu tempo e nas ânsias esquecidas dos nossos pensamentos.

  Há ali uma estante inclinada perante os servos dos grandes. Como ela lhes rendo a minha homenagem singela. Para além disso nunca saberei como pagar a quem sofre os meus padecimentos.

  Não vês o que a música tem para nos livrar dos pecados?

  Nem por sombras arriscarei acariciar-te o cotovelo. É teu. Acariciar é uma trajectória imaginária à volta dum corpo indizível. Todos nós temos um romance almareado com o horizonte. É aí que todos os elementos (com fúria) se orientam segundo rumos de afectividade.

Acontecem ainda algumas coisas difíceis de compreender nas ocasiões em que dois guarda- chuvas se precipitam na terra lavrada.

  É doido o que não pensa o dia de amanhã. Que agradável loucura, pensou um homem pendurado no cabide do precipício.

  ( ... )

  No dia seguinte:

  Foi então que chegaram ao pé de mim elefantes a jogar petanca. Como ninguém lhes sorriu, sentaram-se e pediram café.

  De Angola, perguntou o empregado.

  Não, do Pólo Norte, responderam em coro como se a pergunta fosse uma alface já na salada. Era de caras.

  Um dia, pareceu-me triste, vieram-me falar uns indivíduos esquisitos. Bebiam uma mistura de bi-naranjus com bagaço do século XIII. Vomitaram algumas ideias completamente escaradas. Como era de esperar, juntei-me a eles e percorremos 3/4 do globo terrestre a pé. Chegados a um lugar, reparei que tinha gasto a sola das botas. Comi o que restava delas - como Charlot - e fui a nado à Mauritânia (ou Singapura?).Aí, na Mauritânia ou em Singapura, comi uma lata de sardinhas e estraguei os dentes todos. Dei-os então a uma menina de caracóis de luar. Pensei que eras tu.

  Mais adiante surgiram as primeiras complicações: numa sala quadrada com duzentos metros de lado, assoviavam alguns homens. O número de criaturas possível de caber na sala mais um. 

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publicado às 18:25



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