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Estas fotografias têm 27 (?) anos. Uma banda em pleno ensaio no estúdio do Ramiro na Amadora. Não faço ideia de quem as tirou. Chegaram-me ao mail pelo baixista da banda. Uma banda que podia ( e de qualquer forma fez) ter feito história. Os Kubrir. Podemos ver nas fotografias o baterista Dadinho, os guitarristas e vozes Domingos e Rui, o baixista Pedro e o, enorme, viola solo Miguel. Lamentavelmente não aparecem dois elementos da banda. O teclista Eurico e o lendário vocalista e líder da banda que agora não me ocorre o nome.
Saudades inadiáveis de dias sem tempo.
alguns médicos aconselham a respirar fundo todas as pessoas que se sintam vivas. depois de “revolução ontem”, sai amanhã “utopia agora”; no fim-de-semana terminará a trilogia com o volume “os abutres também dançam”. poeta morre acidentalmente afogado em questões de estética após ter escrito um decassílabo sem querer. certos índices aumentaram mas outros continuam a descer, enquanto as percentagens, pouco sujeitas a este tipo de flutuações, continuam relativamente estáveis. o conselho reuniu de urgência, certas medidas foram tomadas e os resultados serão revelados assim que for possível. o caso está a chocar as autoridades e as pessoas mais tristes. quem estiver farto que se atire. corroboro disse ele, mesmo antes da sobremesa.
João Bentes, em "Agonia.
(um outro escritor - fora de jogo - da ria)
Ser editor de um poeta é complicado. Ser editor e amigo de um poeta bêbado, decadente e irresponsável é o inferno. Um inferno fascinante, mas um inferno. O meu amigo Rui Dias Simão é um dos maiores poetas portugueses vivos. No entanto parece constantemente querer desmentir-me: deixar de estar vivo.
Hoje tínhamos combinado ir ao lançamento do livro do Fernando Esteves Pinto, amigo comum, à Biblioteca Municipal de Olhão. Aproveitaríamos para distribuir a alguns amigos o último livro do Rui e das edições CATIVA, Poemas do Banco de Trás. Cheguei a sua casa, kantianamente, à hora combinada. Depois de muito insistir com a campainha, resolvi telefonar-lhe. Atendeu, com uma voz arrastada de bebedeira de três dias, da praia." É pá desculpa lá mas estou aqui na praia com um grupo de trissexuais".
Extraordinário espetáculo de video, poesia, música, teatro e performance. Organização de Vítor Correia e Armação do Artista. No magnífico jardim do Convento de S. Francisco. Quem não foi esta noite, tem a repetição na próxima noite. Dia 12 pelas 21 e 30. Imperdível, o meu amigo Vítor Correia, contra ventos e marés (o nome da performance não é inócuo), no seu melhor. E só com prata da casa...
Bem, a acrescentar, e tornando a noite quase perfeita, ou mesmo perfeita, estavas tu a meu lado...
Não tinha pensado nisso. A avenida estendia-se, rude e crua, até ao fim do mundo. Alguns candeeiros iluminavam o nevoeiro morno do Levante. As minhas pernas pareciam moles e frouxas, caminhava cambaleando no alcatrão esponjoso. Nunca tinha pensado nisso: bebia para ocultar a timidez.
Àquela hora da madrugada irresponsável, o calor mantinha-se à superfície das coisas. O ar irrespirável alimentava as insónias dos entes há muito retirados nos leitos burgueses. Nos lençóis encharcados de lama pestilenta. O maléfico soprar das aragens desérticas destrambelhava as mentes sóbrias.
Avanço ao encontro da imensidão da noite. A experiência diz-me que no fundo da avenida, junto ao porto, um bar ilumina as trevas. É o último reduto da loucura ambulante antes do Sol misturar tudo na intensa luz do Levante.
Aquele homem que percorre lentamente a borda da Ria é um poeta. Como todos os poetas procura a embriaguez do abismo profundo e inatingível. Generoso e sem retorno. É uma caminhada dolorosa e sem destino que engole o próprio caminhante. Uma autofagia que vai destruindo o sujeito e o objecto. Uma boca hiante a partir da qual o corpo se vira do avesso, desaparecendo nas vísceras tetónicas do inferno emergente. Uma longa batalha entre quem come e é comido, sendo que um e outro são a mesma entidade. Entre o destino e a razão.
Enquanto mija atrás de um contentor de lixo, uma figura mágica espreita por entre os restos nauseabundos. Os excrementos sociais que preencheram as ânsias medíocres da humanidade.
Por deus, é uma mulher!
De olhos muito abertos e uma boca escancarada e vermelha, concupiscente, fita o poeta. Toda ela é desejo e vontade de emergir da putrefação contida.
O poeta sacode a pila e não resiste aos encantos da visão miraculosa. Retira-a cuidadosamente do caixote pestilento e verifica, surpreso, que a mulher é jovem, durinha, leve e bonita. E está nua.
Mãe, telefona-me mãe!, grita na noite incompleta. Tu e eu somos os maiores que as estrelas envolvem. Tu, a melhor mãe que os tempos conheceram e experimentam. Eu, o maior poeta vivo que risca a face do planeta. Telefona-me mãe!, ecoa nas profundas cicatrizes da existência, num rugido lancinante e triste.
Caminha, agora, com a jovem ao colo. Leve como ar de Verão. Leve como algumas palavras que nunca são ditas. A timidez irrompe das entranhas instáveis e, no lento processo de auto-fagia, nunca se sabe se vem de dentro ou de fora. É preciso aplacar-lhe os propósitos misantropos que atropelam a alma.
Hoje, o Paraguai apaziguará o meu coração. Depois ajustaremos contas...
Hoje à noite. 33 graus numa noite sem vento, numa das mais bonitas praças da cidade de Tavira, o largo do Convento do Carmo, espetáculo de música (tocada ao vivo) e teatro aéreo pelos argentinos Puja.
Fantástico!!!!
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