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Ontem, aquilo que te preocupava foi apagado
da memória e empacotado em livros discretos,
suportes de um tempo lavrado na cal das paredes
expostas ao cruel sonho da opressão, ao medo
que estilhaça a caminhada pelo pó onde
os pés rangem na noite espessa e sussurrada.
Ontem, os escombros que rejeitaste no novo dia,
ainda palpitantes e revoltos da edificação caótica
da véspera, esconderam para sempre as cicatrizes
que te vincavam o caminho silencioso, tatuagens
efémeras queimando a pele, incendiando
o caminho sombrio que o vento açoita.
Eis que de súbito, ontem ainda, se levantam
ondas alterosas arrastando os que ousam enfrentar
o desconhecido, que desenham caminhos utópicos
rasgando o apocalipse, os ciclos repetindo o tempo.
Esta repentina alteração na dança dos dados lançados
na planície apanha-te – nos princípios – desprevenido
e à deriva. Reaprendes a erguer-te da superfície instável
do devir, os olhos procuram outros olhos que te guiem
na imensidão do caos. Reaprendes a conhecer o que
importa na voluptuosa insolvência dos incautos.
Quando a correnteza das águas amaina, compreendes
que estás só, que os que te acompanhavam seguiram
outras veredas por entre os obstáculos salpicados
na imensidão do futuro. O tamanho dos dias que se estendem
diante de nós representa uma barreira na progressão, mas,
ao mesmo tempo, um desafio maior que te espera:
o curto espaço entre a vida e a morte onde
a cópula desoculta o caminho.
MG/VRSA 4/2012
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